ROGÉRIO
FRANCISCO ARRAIOLOS
O nosso
entrevistado deste mês tem uma história de vida fundamentalmente semelhante à
de tantos outros alentejanos que nasceram em ambientes rurais.
“Nasci
há 76 anos, mais propriamente em Julho de 1937, no Monte da Regadia. Éramos
seis irmãos (cinco rapazes e uma rapariga), dos quais já faleceu o Joaquim
José.”
O pai também
desenvolvia a sua actividade como operário agrícola e, para sustentar a prole,
tinha de estar sempre atento a quem oferecia melhores salários.
“É
verdade - confirma o nosso amigo Rogério. Durante anos fomos saltitando
daqui para ali, sempre na busca de conseguirmos os proventos que nos
garantissem o sustento e uma vida mais digna. Recordo-me que da Regadia
passámos para o Monte Novo e, sucessivamente, para a Courela do Sampaio, Monte
dos Solteiros, Monte da Cesta, Monte do
Outeiro Novo e Monte de Crispim. E foi daqui que parti para me casar.”
Mas voltemos um
pouco atrás nas suas recordações:
“Em
garoto aprendi os rudimentos das primeiras letras. A “escola” era uma barraca
colocada debaixo de um sobreiro, junto à estação do 78 dos caminhos de ferro,
na linha da mina do carvão que ia para S. Cristóvão. Chamava-se Aldegundes a
moça que nos ensinava. Não sei qual era o seu estatuto e nem se recebia alguma
coisa por se prestar a essa missão. Mais tarde, morava então no Monte dos
Solteiros, frequentei as aulas no Escoural e a minha professora chamava-se
Edviges Pisco. Nunca mais nos cruzámos, mas quando eu estive internado no
hospital, em Évora, a Senhora teve conhecimento e foi lá ver-me. Fiquei
sensibilizado. Mas voltemos à minha experiência escolar. Curiosamente, as
minhas deslocações ao Escoural tinham sobretudo outra finalidade: Estávamos no
tempo em que os bens essenciais eram racionados e, então, aproveitava as minhas
deslocações para trazer o pão que o padeiro Bem-Feito nos arranjava. Chegava a
haver filas com 300 metros e muitas vezes saía de lá cerca das 10 horas da
noite. Teria então os meus 7 anos e ainda tinha pela frente, no regresso, seis
ou sete quilómetros, de noite e a pé descalço. A minha escolaridade no Escoural
só se manteve até durar o racionamento. Quando acabaram as senhas, terminou a
escola para mim.”
E o ainda menino
Rogério começou então a conhecer o mercado de trabalho.
“O
meu primeiro emprego foi guardar cabras. Depois fui ajuda de pastor, vim para
moço de recados em casa do lavrador Custódio Simão Nunes, que morava na Rua de
Avis, e de seguida voltei novamente a guardar cabras. Quando tinha 17 anos
comecei então a trabalhar na agricultura, tendo feito todos os trabalhos
inerentes a esta arte.”
Mas a vontade de aprender e o
reconhecimento de que lhe seria importante retomar a escolaridade que nunca concluíra, levou-o já homem, mas ainda em solteiro, a frequentar o programa nocturno para a Educação de Adultos. E fez aí a 3ª classe da instrução
primária.
“Chamava-se
Alda Maria Coelho a minha namorada e tinha 25 anos quando resolvi casar. Fomos
morar para a Zambujeira, freguesia de S. Cristóvão. Trabalhávamos os dois no
campo. Passado tempo tivemos um filho, Camilo, hoje com 36 anos. Estaria casado
já há uns quatro anos, quando decidi voltar à
Escola, tendo conseguido fazer o
exame da 4ª classe na Escola da Rua de Avis. Infelizmente, mais tarde, a minha mulher viria a falecer. Em Maio de 1993.”
Segundo nos
revelou, Rogério Arraiolos trabalhou sempre em tarefas agrícolas até que…:
“Em
1976 fui convidado para integrar o Secretariado das Cooperativas Agrícolas e
Unidades Colectivas de Produção, em Montemor e em Évora. Aí continuei até 1982,
ano em que comecei a ser funcionário da
estrutura local do PCP. Aqui me mantive até 2002. Por esta altura adoeci com
gravidade e fui forçado a deixar de trabalhar, ainda que tenha colaborado em
estruturas do poder local, nomeadamente na Junta de Freguesia de S. Cristóvão,
na Câmara Municipal e na Assembleia Municipal.”
Entretanto, a
doença obrigou-o mesmo a deixar toda e qualquer actividade:
“O
mês passado fui operado a um pulmão no Hospital de Santa Marta, em Lisboa, e
passados alguns dias desse mesmo mês de Outubro, ingressei no Abrigo, na
valência de “Centro de Dia”.
Obrigado,
Rogério. Oxalá possa agora desfrutar de uma vida longa e com mais saúde.