QUEIMA DOS COMPADRES
A tradição cumpriu-se
mais uma vez e a “Queima dos Compadres” teve lugar aqui nas instalações do
Abrigo, na manhã de terça-feira, dia 21 de Fevereiro.
Antes, porém, há que fazer um pequeno esclarecimento. Ao
contrário do que há já uns quantos anos acontecia frequentemente em Montemor,
sobretudo por iniciativa das sociedades recreativas, esta cerimónia pouco tem a
ver com a então “Serração da Velha” em que, como muitos ainda se recordam,
havia um processo em tribunal contra uma “senhora” a quem eram apontados muitos
defeitos e deslizes. E era em pleno julgamento, que tanto a defesa da arguida
como os seus contrários expunham argumentos. Claro que havia sempre a
inevitável condenação, proferida, com pompa e circunstância, pelo juiz. Era
então chegada a altura de velha condenada ler o seu testamento, escrito em
quadras, em que eram contemplados, nem sempre de uma forma meiga, os muitos
herdeiros conhecidos de toda a gente.
Aqui, na “Queima
dos Compadres” a condenação está previamente decidida e as vítimas só no
momento são identificadas. Nem elas próprias sabem o destino que, desde há
muito, lhes está reservado: a fogueira.
Durante algum tempo, reúne-se um grupo de homens que,
entre si e em segredo, escolhem a “comadre” a ser queimada. Ao mesmo tempo, um
grupo de senhoras procede da mesma forma em relação a um “compadre”. Então, em
sessão pública, o porta-voz dos homens dá a conhecer, através de quadras, não
só elementos que permitem a todos, inclusivamente à própria “vítima”, identificar
de quem se trata como, ainda, revelar o que as “herdeiras” vão receber em
testamento. Claro que depois é a vez das senhoras, por intermédio da sua
representante, proceder de igual modo para com o “compadre” que também vai
conhecer o seu acalorado fim.
E ficou a saber-se que a “comadre” sacrificada era a D.
VITÓRIA DE JESUS e o “compadre” o sr. ANTÓNIO PEDRO DOS SANTOS, ambos utentes
deste Abrigo.
E, traçado o seu destino, lá foram ambos retirados para
serem queimados na fogueira, previamente preparada para o efeito, na presença
de numerosos e divertidos assistentes.
Tudo, afinal, para acabar em beleza e com a certeza do
dever cumprido. Os intervenientes reconheceram depois que viveram todo um
processo que lhes rendeu momento de divertimento. Eis os protagonistas:
Grupo das Comadres:
Joaquina
da Quinta, Basilissa Perna, Angelina Merendeira, Maria Narcisa Ferreira,
Vitória Lopes Serra, Rute Borla, Rosalina Maria, Vitória de Jesus, Visitação
Alves, Maria Luísa Pinheiro, Micaela Barreiros, Isalina Marcelino e Marta Dias.
Os versos foram escritos
por Custódia Cardador e Maria do Céu Mestrinho, que também se encarregou do
guarda-roupa.
Grupo dos Compadres:
Rogério
Arraiolos, Leopoldo Gomes, Isidoro Grulha, Joaquyim Rafael Martins, Francisco
Tira-Picos, Salvador Boleto, António Lopes, Filipe Palma, António Pedro dos
Santos e Joaquim Pinto.
Os versos foram
concebidos pelo André Banha com a colaboração de outros membros do grupo.
No final, nos bastidores e enquanto tiravam as
cabeleiras, as senhoras já anteviam com entusiasmo o desfile carnavalesco do
próximo dia 25. Mas não revelaram pormenores das suas máscaras, para nos
manterem na expectativa.