JOSÉ
MANUEL MATEUS
Nascido
na aldeia e freguesia de Ciborro, região onde também foi criado e sempre viveu,
o nosso amigo e conhecido de há muitos anos, tem 91 primaveras e é viúvo de
Antónia Maria Mateus, falecida há nove anos. Prestou-se este mês a contar-nos,
por alto, momentos da sua vida.
“Sou
o mais novo de seis irmãos (3 rapazes e 3 raparigas) dos quais só eu e o meu
irmão Manuel, hoje com 94 anos, somos vivos. O meu pai era agricultor e só na
herdade do Godial esteve mais de trinta anos como rendeiro.”
A sua infância foi
a normal para a época, ainda que tivesse tido a possibilidade de ir à escola:
“Só
os três filhos mais novos foram à escola: eu, o meu irmão Manuel e a minha irmã
Custódia. Mas enquanto eles acabaram a 4ª classe, eu fiquei-me pela segunda. A
minha professora chamava-se Margarida e era natural de Montoito e quando se foi
embora, eu simplesmente desisti. Mas escrevo e leio o suficiente para me ter
desenrascado ao longo da vida.”
Mas tendo dado por
terminado o estudo, outra vida o esperava…
“Está
mesmo a ver-se que sim. Ao terminar a minha carreira escolar, outro remédio não
tive se não o de ir trabalhar para o campo juntamente com o meu pai. E assim
continuei até perto dos quarenta anos.
Mas, entretanto,
teve os anos da juventude, em que muitas coisas acontecem…
“É
sempre uma fase da vida que nos marca de uma maneira ou de outra. E por essa
altura os bailes eram o que eu mais gostava. Isso é que eu adorava dançar… Pelo
Carnaval também me divertia muito. Recordo-me que por esta quadra se realizavam
as cavalhadas, diversão/competição em que os concorrentes, montando em cavalo,
égua ou burro, tentavam obter um prémio desde que conseguissem enfiar um
pequeno pau numa argola que, ao meio da estrada, estava suspensa num fio. Tinha
dezasseis ou dezassete anos e, com uma égua que eu conhecia bem do Godial, fui
o campeão nesse ano.”
E em questão de namoros?
“Nunca fui muito
namoradeiro e, com dezoito anos, comecei a namorar a minha Antónia e por ela me
fiquei. Depois, pelos nossos 21 anos, juntámo-nos e fomos morar para o Godial,
para a casa da mantearia. E a minha mulher assumiu as funções de manteeira,
encarregada das refeições do pessoal.”
E por aí foi
ficando …
“Sim,
mas com o passar dos anos o meu pai foi ficando velhote e deixou de ser
rendeiro. Fomos então morar para a aldeia do Ciborro, onde acabei por casar
legalmente vinte anos depois de vivermos juntos. Já no Ciborro ainda trabalhei
no campo, inclusivamente por minha conta como seareiro. Mas as coisas não
correram bem e comecei a fazer outros serviços.”
E assim continuou?
“Não,
porque entretanto o meu irmão Manuel fundou a Carpintaria Mecânica de Valenças
e eu comecei a trabalhar lá, especialmente como tractorista mas fazendo também
o que calhava. E foi aqui que trabalhei até aos sessenta e tal anos, altura em
que tive um grave problema no coração, fui operado no Santa Maria e
reformei-me, continuando a morar no Ciborro.”
Até que …
“Até
que, com a morte da minha mulher e o avançar da idade, as condições começaram a
degradar-se e, para não estar a incomodar as minhas filhas, candidatei-me a uma
vaga como residente aqui no Abrigo e essa oportunidade surgiu já este mês.
E como vai
preenchendo os seus dias ?
“Sempre
gostei de ler, sobretudo jornais, nas minhas horas vagas, mas hoje a minha
vista também já não o permite. Pelo mesmo motivo vejo pouca televisão.
Limito-me a ir ao ginásio e a conversar com esta rapaziada da minha idade. Como
estou cá há pouco tempo ainda não tive a oportunidade de assistir às actuações
do grupo de teatro e do coral, assim como às festas que eu já sei que aqui se
realizam de vez em quando.”
Amigo Mateus:
desejamos que se sinta bem nesta Instituição e que se vá mantendo com saúde até
ao centenário.