CASIMIRO
FLORÊNCIO
Ainda
com o sabor na boca do bolo com que celebrou, no dia 8 deste mês de Janeiro, o
seu 95º aniversário, o nosso primo por afinidade CASIMIRO FLORÊNCIO dispôs-se a
dar-nos dois dedos de conversa, falando de pormenores da sua vida.
Viúvo de Guilhermina Maria Dionísio
há 13 anos, tiveram uma filha, hoje com 73 anos, que tem casa junto ao Café
Oásis e um filho que, infelizmente, já faleceu.
“Nasci
no Monte dos Choupos, junto às Silveiras. Fui filho único e nem sequer me
recordo do meu pai, que fez a tropa como marinheiro e assim continuou até ao
fim da vida, apenas com raras e rápidas visitas a casa. Para além disso, tanto
o meu pai como a minha mãe faleceram cedo, ambos na casa dos trinta anos.”
Como foi então a
sua infância?
“Depois
da minha mãe falecer vivia com o meu avô. Frequentei a escola na herdade da
Duraia, onde conclui a 3ª classe. A professora afirmava que eu era muito bom em
contas, mas por outro lado dava muitos erros na escrita. Ainda frequentei mas
nunca acabei a 4ª classe.”
E dada por
concluída a escola…
“Com
doze anos comecei a trabalhar. Tive como primeira função juntar a cortiça que
ia sendo tirada das árvores e que, depois, uma junta de bois transportava para
as pilhas que atingiam grandes volumes. E a partir daí nunca mais parei.
Entretanto, eu e a minha mãe vivíamos com o meu avô, porque o meu pai nunca
estava em casa dada a sua condição de marinheiro. Aliás, e como já disse, não
tenho dele a menor recordação, tão poucas foram as vezes em que o terei visto.”
E nunca mais parou
de trabalhar…
“É claro. Perto dos vinte anos comecei a namorar a minha vizinha Guilhermina e, no dia do meu 22º aniversário, juntámo-nos. A minha mãe já tinha falecido e o meu avô trabalhava então para o Dr. Silva Araújo. Eu ia fazendo o que calhava de entre os trabalhos agrícolas. Algum tempo depois o meu avô também faleceu e eu, e a minha esposa, continuámos a residir no Monte dos Choupos. A seguir fomos para o Monte Novo, junto à estrada para Cabrela. Aqui estive 47 anos, até vir para o Abrigo, em 2010. Durante uns anos deixei de trabalhar por conta de outros e comecei a fazer esgalhas e a tirar cortiça por minha conta. A maioria dos lavradores não queria estar com chatices a contratar pessoal e, então, contra o pagamento de uma determinada verba por cada arroba de cortiça que fosse extraída, era eu quem, para além de executar esse trabalho, arranjava também pessoal para o fazer. Para além disto, ainda comprava as árvores, antecipadamente marcadas e com o derrube autorizado pelos Serviços Florestais, cuja lenha servia para queimar nos fornos domésticos ou para o fabrico de carvão. Iniciei esta vida quando tinha cerca de 27 anos, altura em que comecei a perceber que era mal empregado trabalhar uma vida inteira para os outros e resolvi então alterar esse estado de coisas.
E durou muito
tempo esse estatuto?
“Até
cerca dos 86 anos. Continuei a morar no Monte Novo mas, sozinho, porque
entretanto a minha esposa e o meu filho tinham falecido, fui forçado a pedir
auxílio no Abrigo, para onde entrei em Novembro de 2010.”
E agora, como são
os seus dias ?
“Sempre
tive dois grandes prazeres na vida: dormir com a minha mulher e ir à caça. Por
motivos que se compreendem, de nenhum destes posso continuar a usufruir.”
Mas como passa os
seus dias?
“De
há uns anos a esta parte, limitado fisicamente devido a um AVC, pouca
actividade posso fazer. Já fiz ginásio todos os dias, mas agora pouco mais
posso exigir do que dar os meus pequenos passeios, já que estou dependente de
canadianas para me deslocar. Mas quero dizer-lhe que fiz grandes desmarcadas
enquanto caçador. Tinha uma cadela, chamada “Académica”, que era um
espectáculo. Uma vez, em Moura, matei, num só dia, 32 perdizes, uma lebre e um
coelho…”
Antes de
terminarmos a nossa conversa, e se me der licença, gostaria de saber porque
ainda é conhecido por “Frescas”…
“Para
lhe dizer a verdade, nem eu próprio o sei. Eu tinha um tio no Monte dos
Choupos, chamado Filipe, que tinha o costume de arranjar alcunhas para todos os
gaiatos dali. E eu não fugi à regra, se bem que nunca conseguisse saber nem
adivinhar onde é que ele teria ido buscar esse nome. Sei é que, como
represália, os gaiatos baptizaram-no de “Cazumba”, também não sei por que carga
de água.”
A terminar, quer
acrescentar mais alguma coisa?
“Quero salientar que a minha família continua a apoiar-me e a acompanhar-me praticamente todas as semanas ou sempre que pode.”
Amigo Casimiro:
Fica já encontro marcado para festejarmos o centenário !