JOAQUIM
ANTÓNIO MARQUES VIDIGAL
Oriundo do concelho de Mora, mais exactamente de Pavia, nasceu numa família de 6 irmãos que ele próprio diz poder ser considerado como um dos do meio. E o Sr. Joaquim Vidigal esclarece que só os dois mais novos frequentaram a escola e concluíram a 4ª classe, grau académico que naquela altura não era muito frequente entre a população rural. Quanto ao seu estado civil diz-nos ser divorciado e viúvo, e mais à frente explica porquê.
“É
verdade. Os mais velhos, eu incluído, não tivemos hipóteses. Curiosamente, eu
fui, digamos, a transição, uma vez que ainda por lá andei durante quinze dias,
tendo como mestre o professor Nascimento. Contudo, passado aquele brevíssimo
período escolar, o meu pai retirou-me a fim de ir guardar uma vara de porcos.
Tinha na altura 8 anos. Após os 3 ou 4 meses no montado, para engorda com
boleta, os animais eram todos vendidos para abate e consumo. Alguns chegavam a
atingir os cem quilos. Era a qualidade ainda hoje apreciada do porco
alentejano.”
Quando terminou
esse ciclo, teve de mudar de actividade …
“Terminado
esse período fui para ajuda do meu pai, que era vaqueiro por conta do antigo
deputado na Assembleia da República, Dr. José Mexia, de Mora. E esta foi a
minha vida até aos dezasseis anos.”
E assim foi
continuando pela vida fora?
“Não.
Mais ou menos por esta idade mudei de profissão. Deixei a pecuária e, ainda por
conta do mesmo patrão, virei-me para a agricultura, sobretudo nas herdades dos
“Desprates” e do “Cré”, ambas também perto de Pavia. Foi esta a minha vida até
perto dos 33 anos, altura em que vim para Montemor.”
Mas, amigo
Vidigal, temos de voltar um pouco atrás. Deve ter sido durante este período que
namorou e casou. Não é verdade?
“Tem
razão, sim senhor. Durante o tempo em que trabalhei na agricultura vim a
conhecer a Jacinta, com quem casei e vivi durante perto de 28 anos. Porém,
devido a problemas que a vida por vezes se encarrega de nos trazer, acabámos
por nos divorciar. Mais tarde voltei a casar, agora com a Maria de Jesus, com
quem vivi cerca de 30 anos, e que infelizmente faleceu há oito anos. Do primeiro
casamento tenho dois filhos, um rapaz e uma rapariga, já casados e a residirem
também aqui em Montemor.”
Voltemos, então,
à sua actividade profissional.
“Como
já disse, por volta dos trinta e três anos vim para Montemor e empreguei-me na
firma Barradas & Barradas, onde trabalhei como operador de máquinas. Fazia
terraplanagens, deslocações de terras e tudo o que era necessário dentro das
nossas especialidades. Estive aqui 22 anos, mas um dia, em resultado de um
conflito laboral, que teve de ser resolvido em Tribunal, resolvi sair e, quinze
dias depois, já estava empregado na “Prediana”, ali na Zona Industrial da Adua.
E aqui estive até me reformar, depois de 14 anos de actividade.”
E o que é que o
levou a ingressar no “Centro de Dia” do Abrigo?
“Foi
devido a questões relacionadas com a falta de saúde. Primeiro tive graves
problemas cardíacos, depois foi um AVC, de que resultaram o impedimento de
fazer as coisas mais básicas. Como os meus filhos estavam empregados, para além
de terem as suas próprias vidas e não me poderem dar a assistência que eu
necessitava, decidi em boa hora recorrer ao Abrigo dos Velhos Trabalhadores,
onde estou desde Junho deste ano. Tenho esperanças de que numa próxima
oportunidade possa ser transferido para a condição de “Residente”, o que me
tranquilizaria quanto ao futuro.
Obrigado pelo tempo
que nos dispensou, Sr. Vidigal. As suas melhoras são os nossos votos.