MARIA FELÍCIA HENRIQUES DA CRUZ
Nascida no dia 27 de Outubro de 1928,
no seio de uma família com nove filhos, dos quais era a terceira mais velha,
teve o Monte do Vidigal como berço.
“O meu pai era feitor da casa agrícola
da família Malta e por aqui, por estes sítios, todos nós fomos abrindo os olhos
para a vida. A nossa meninice praticamente não teve história digna de registo.
Apenas de salientar, porque essa circunstância era pouco comum naquele tempo,
que todos nós, com a excepção da filha mais velha, frequentámos a escola. E a
mais velha só não foi porque no seu tempo a única hipótese era ainda a de ter
de vir a Montemor. Além de ser longe, a minha mãe não a podia acompanhar por
causa dos outros filhos.”
E viveram ali sempre?
“Não. Mais tarde
deslocámo-nos para o Pomar das Almas, perto do Ferro da Agulha e também não
muito longe do Vidigal. Ali morámos trinta e cinco anos.”
E como foi a sua juventude?
“A minha juventude foi breve porque
aos 19 anos já estava casada com Jerónimo Veríssimo da Cruz, que era
guarda-florestal, e que, para minha grande mágoa, faleceu fará agora em
Dezembro quatro anos. Até lá trabalhei em casa. Ajudava na lida da casa, a
tratar dos meus irmãos mais novos, a fazer o almece, o requeijão e os queijos.
Quando casei ainda fui apanhar umas azeitonas mas, porque o meu marido não
queria que eu trabalhasse no campo, limitei-me a gerir a casa e a tratar dos
meus filhos.”
Quantos filhos teve?
“Dois. O mais velho já faleceu e o
Carlos Manuel, com 52 anos, vive em Montemor e trabalha numa empresa perto de
Lisboa. Deve ser o maior desgosto na vida, uma mãe ver morrer um filho. Não há
nada que se compare.”
Voltando um pouco atrás, a família
viveu toda no Pomar das Almas?
“Não, nessa altura a minha irmã
Cristina e os meus irmãos mais novos, o Joaquim Albino e o João, foram morar,
juntamente com a minha mãe, para uma casa na Rua dos Almocreves. Por esta
altura já a Cristina, depois de ter sido Regente Escolar, era Ajudante do
Tesoureiro da Fazenda Pública, o Joaquim Albino era Ajudante de Notário ali na
rua 5 de Outubro e o João era mecânico na União Metalúrgica, de onde saiu para
cumprir o serviço militar em Angola.
E agora?
“Agora é ver passar os dias. Como vê,
já estou limitada a uma cadeira de rodas e os desgostos vão-me consumindo aos
poucos. Estou aqui no “Lar” há quatro anos. Não há nada que se equipare à nossa
casa mas, fora dela, não podia ter escolhido alternativa melhor.
Gostei muito de falar com a Senhora.
Melhoras e dias felizes.