UMA VIDA PLENA
AUGUSTO ADRIANO PEREIRA é a nossa
figura deste mês. Natural de
Montemor-o-Novo, onde nasceu há 81 anos, é casado há 58 com Maria Luísa Gomes
Ferreira. Desta união nasceram as meninas dos seus olhos: Maria José e Florinda.
Acedendo ao
nosso convite, o amigo Augusto aceitou de bom grado revelar alguns aspectos da
sua vida.
E começou: “Quando
ainda era um rapazote, talvez com 14/15 anos, o meu primeiro emprego foi no café
do Largo Serpa Pinto (hoje Largo General Humberto Delgado). Era a Leitaria do
Sr. João Taveira, mais tarde propriedade de Gabriel Nunes Coelho e mais
recentemente da família Catita. Na altura, aquela zona era muito movimentada e,
especialmente nas noites de verão, o largo enchia-se de gente a apanhar o fresco.
O café, que só no início da sua actividade vendeu leite, haveria de ficar
sempre conhecido por Leitaria.”
E continua: “Estive lá empregado mais ou menos um ano.
Como andava sempre a sorrir para a clientela, fiquei conhecido como “O
Risotas”. Quando saí, o meu pai, que era um excelente e bem conhecido pedreiro,
puxou-me para o seu lado e comecei a dar serventia. Aproveitei os ensinamentos
e fui pedreiro até à reforma.”
Paralelamente à
sua actividade profissional, ou já depois de reformado, dedicou-se a várias
iniciativas de carácter social. “Fui um
activo sindicalista, ajudando a fundar o movimento sindical em Montemor;
participei nas Comissões de Base de Saúde e pertenci à CISSL – Comissão
Instaladora dos Serviços de Saúde Locais. Desenvolvi ainda outras acções que
sempre tiveram por objectivo melhorar as condições de vida da população.
O Sr. Augusto
recorda agora os últimos tempos: “Há
cerca de 5 anos, a minha mulher adoeceu, o seu estado foi-se agravando e, a
partir de determinada altura, achou-se impossibilitada de fazer a maioria das
tarefas domésticas. O meu estado de saúde também começou a deteriorar-se e não
tivemos outra solução senão a de mudar o curso normal das nossas vidas. Pedimos
ajuda ao Abrigo. Primeiro fomos utentes do “Apoio Domiciliário”, depois
frequentámos o “Centro de Dia” e, quando surgiu a oportunidade, ficámos
definitivamente como residentes. Como se não bastasse já a doença que me
afligia, no dia 19 de Novembro dei uma queda no ginásio e, agora, só me consigo
deslocar com a ajuda de um andarilho.”
Mas durante a
nossa conversa surgiu outra confissão: “Há
algum tempo surgiu-me a ideia de contar mais em pormenor alguns episódios da
minha vida, mas essa possibilidade estava-me vedada porque não conseguia
escrever. Um dia manifestei este desejo ao José Manuel Brejo, que imediatamente
se prontificou a recolher as minhas memórias e a quem, por isso, estou
imensamente grato. Falei deste propósito à Direcção do Abrigo, que acolheu bem
a ideia e me incentivou a ir em
frente. Foi assim que, após vários meses de conversa, surgiu
um pequeno livro que recebeu o título de “Estórias da Minha Vida”. Ainda que
sendo uma edição limitada a vinte exemplares da minha responsabilidade, contei
com o apoio da Câmara Municipal e do Abrigo dos Velhos Trabalhadores, entidades
a quem dirijo o meu agradecimento.
E,
para terminar, confidenciou: “O livro não
está à venda. Aqueles exemplares vão ser oferecidos a outras tantas pessoas a
quem enderecei convite para estarem presentes na cerimónia de lançamento, que
ocorrerá no dia 19 de Maio, pela 14,30 h. numa das salas deste Abrigo.
Foi agradável
falar com o Sr. Augusto. Tem uma história de vida aparentemente igual a tantas
outras; porém, com a particularidade de sempre se ter interessado pela promoção
e bem-estar do seu semelhante, em geral, e dos trabalhadores, em especial.