MARIA
CRISTINA HENRIQUES
“Tenho 88 anos e sou a mais velha de 9 irmãos.
Nasci no Monte da Courela, perto do Vidigal, propriedade da família Malta e
vivi depois no Vidigalinho.”
Foram estas as palavras de
apresentação da nossa entrevistada do mês. E continuou o relato da sua vida:
“Sou a única dos irmãos a quem nunca foi dada
a oportunidade de frequentar a escola. Nesses tempos, o aprender a ler e a
escrever não era considerada uma prioridade e logo com 10 anos comecei a
trabalhar no campo. No entanto, quando os meus irmãos atingiram a idade da
escolaridade, ou porque os meus pais já pensassem de outro modo ou porque a tal
fossem aconselhados,os restantes filhos todos eles concluiram pelo menos a
instrução primária.”
A sua família foi, e é, bastante
conhecida aqui em Montemor.
“Recordo os nomes de todos os meus irmãos:
Cristina Maria, Maria Felícia, Albino, José Albino, Manuel Joaquim, Maria de
Fátima, Joaquim Albino e João António. Infelizmente alguns deles já nos
deixaram.”
Mas voltemos à sua juventude:
“Quando tinha 15 anos comecei a
namorar com o que viria a ser, até hoje, o meu marido. Na altura, e
especialmente para quem vivia no campo, estes namoricos eram arranjados nos
bailes que os rapazes organizavam em qualquer monte. Nos meus lados, dançava-se
ao som de um pequeno harmónio, tocado por um guarda-florestal chamado José
Salgueiro.”
E foi numa destas “funções” ou
“funçanadas”, como também eram conhecidos os bailes campestres, que o romance
começou:
“Foi através destes bailes que comecei a
namorar o Júlio. Mas o namoro era bastante contrariado, especialmente pela
minha mãe, alegando que eu era muito nova e o rapaz tinha mais seis anos do que
eu. Claro que não ganhou nada com isso porque passados três anos já estávamos
casados. E ainda bem que demos este passo, porque o meu marido tem sido sempre
muito bom para mim.”
E, de menina e moça, cedo passou
a senhora casada e com outras responsabilidades:
“Sou casada há cerca de setenta anos com Júlio
Mamede Falé, actualmente com 94 anos. Deste enlace nasceu uma filha – a Maria
Júlia – que me deu dois netos e agora já tenho um bisneto e uma bisneta.
Quando casámos, o meu marido
vivia e trabalhava na Quinta do Vidigal, então conhecida como Quinta dos
Pretos, da família Alves. Foi aqui que vivemos alguns anos. Regressámos depois
ao Monte do Vidigal e ultimamente morámos em Montemor, na Travessa das
Farizes.”.
A D. Maria Cristina recordou
ainda que, em tempos, a mãe e três dos irmãos – a Cristina, o Joaquim Albino e
o João – moraram na Rua dos Almocreves, curiosamente no mesmo local onde fora a
sede do Clube de Futebol “Os Montemorenses”, vulgarmente conhecido como “Os
Leões”, que beneficiou das indispensáveis obras para se tornar habitável.
“Viemos aqui para o Abrigo há um ano. Estamos
satisfeitíssimos. Somos bem tratados e usufruimos de condições que nunca
tivemos nas casas onde morámos.”
Felicidades para o simpático
casal!