HORÁCIO ANTÓNIO PREGUIÇA
Com o novo ano renova-se também a vontade de continuarmos a
dar a conhecer a parte mais significativa da vida dos nossos utentes.
Hoje
é a vez de Horácio António Preguiça,
que lutou para conquistar o seu lugar mas que não viu a sorte sorrir-lhe, em
termos de saúde, quando a sua vida estava bem encaminhada. Mas vamos ouvi-lo:
“Nasci
em 1946 no Monte de Monfurado, que pertence ao Escoural. Aqui vivi até ir para
a tropa. Frequentei a escola em Rio Mourinho, onde conclui a 4ª classe. Como
era normal, terminada a instrução primária comecei logo a trabalhar no campo,
nomeadamente a guardar gado. E assim se foram passando os anos até assentar
praça. Durante a minha vida militar dei várias voltas, mas quando terminei estava
em Cavalaria 3, em Estremoz, ainda que também tenha prestado serviço no Forte
da Graça, em Elvas.”
Foi então altura da sua vida conhecer
novos horizontes…
“Desmobilizado
e concluída esta fase obrigatória, era para mim impensável voltar à vida antiga.
Fui então para Lisboa tirar um curso de electricista, ramo que me seduzia e que
certamente me permitiria conseguir colocação numa área que me agradava. E
aproveitei a estada para concluir também o Ciclo Preparatório. Já habilitado
profissionalmente, entrei para uma empresa denominada Electro-Técnicas
Reunidas, e o meu primeiro trabalho foi num palacete em Cascais que, mais
tarde, haveria de ser a Capitania do Porto de Cascais.
Mas não ficou por aqui.
“Claro
que não. Por conta da mesma empresa fui trabalhar, também como electricista,
para a refinaria de Sines, onde estive mais de um ano. Entretanto, ainda tentei
tirar o 5º ano dos liceus, mas a transferência para Sines e a dificuldade com o
“francês” impediram-me de alcançar esse objectivo. Para a mesma empresa
trabalhei ainda numas residências aqui junto à Pintada, não só como
electricista mas inclusivamente na qualidade de técnico de telefones.”
Então, nova volta no seu percurso:
Concluída
esta fase da minha vida, desloquei-me para Angola, já por conta de outra
empresa, denominada Acta. Andei por lá três anos, e trabalhei, por exemplo,
sempre como electricista, em três delegações de um Banco, o BIC.”
Deu-se o regresso e novo patrão,
ainda que desempenhando as mesmas funções:
“Fui
para o Porto, para uma empresa que estava a ser construída e que se viria a
dedicar ao corte e plastificação de aço inox, que vinha de Espanha. Calhou-me,
portanto, proceder à instalação eléctrica para depois os espanhóis virem montar
as máquinas que permitiam que, ali, o aço
inox fosse cortado, polido e plastificado de harmonia com os desejos de cada
cliente, de forma a evitarem-se desperdícios.
Do
Porto, e ainda por conta da mesma empresa, desloquei-me para Azeitão para fazer
a iluminação pública de algumas ruas.”
E foi por esta altura que se deu o
episódio que, infelizmente, iria influenciar definitivamente o futuro do sr.
Horácio:
“Aqui,
já eu tinha ultrapassado os 60 anos, aconteceu o que me haveria de marcar para
o resto da vida. Durante o período de trabalho, fui vítima de uma trombose e
fui de imediato transportado para o Hospital Garcia de Orta, em Almada. Estive
ali internado durante uma semana e, depois de uma ressonância magnética à
cabeça, disseram-me que não havia nada a fazer e mandaram-me para casa, paralisado
do braço direito. Algum tempo depois, não muito, desloquei-me a Évora e caí.
Fui conduzido ao Hospital e, segundo penso por problemas de circulação, até
porque já tinha feridas nos dedos do pé esquerdo, operaram-me e cortaram-me a
perna esquerda uns quatro dedos abaixo do joelho.”
Foram tempos dolorosos, física e
psicologicamente…
“Foram
tempos terríveis. Quando saí do hospital de Évora vim para Montemor fazer
fisioterapia no Hospital de S. João de Deus durante uns meses. Depois, estive
em Mora num centro de acolhimento, até que consegui vaga aqui no Abrigo, em
Montemor, para onde entrei como interno em Julho de 2013.”
Confinado a uma cadeira de rodas, e
mesmo assim limitado na sua deslocação devido à paralisia no braço direito,
como é que o sr. Horácio ocupa os seus tempos ? Falámos nas hipóteses que tem
no grupo coral, no teatro, na leitura (até porque tem um bom nível escolar),
mas nada disto lhe desperta suficiente interesse. E justifica-se:
“Não
sei cantar, nunca tive jeito para o teatro e quanto a leitura a minha vista já
não é o que era, pelo que me limito a ir vendo a televisão.”
É pena, mas respeitamos a sua opção.
Obrigado pela disponibilidade com que nos atendeu.