Joaquina Linguiça: Uma vida de trabalho
“Tinha 10 anos quando comecei a trabalhar no campo”, começou por dizer a nossa figura
deste mês, como início de conversa. Mas antes de continuarmos, vamos primeiro
apresentá-la:
Natural de Foros de Vale Figueira,
tem 80 anos, chama-se JOAQUINA MARIA
LINGUIÇA e é utente do nosso “Centro de Dia”.
E foi revelando: “Devido
principalmente à doença do meu marido, que já sofria bastante e estava
incapacitado há longos anos, fomos forçados a recorrer ao Abrigo como a melhor
solução. Começámos a usufruir deste serviço há oito anos mas, infelizmente para
ele, cinco dias depois, e quando já tinhamos regressado à nossa casa nos Foros,
nessa noite sentiu-se mal, ainda foi levado para o hospital em Évora mas parece
que já nada havia a fazer, tendo acabado por falecer.”
Hoje, a D. Joaquina continua no
“Centro de Dia”, sempre na expectativa de um dia conseguir uma vaga no “Lar”.
Desfiando o seu rosário de
recordações, D. Joaquina continuou: “A minha infância não foi fácil. Éramos oito
irmãos, dos quais eu era a mais velha. O meu pai sempre foi um trabalhador
rural e, portanto, apenas com o seu reduzido salário, pode-se facilmente
adivinhar as carências que tinhamos de vencer todos os dias. Acresce ainda que,
devido à guerra, os alimentos escassevam e
alguns deles só se conseguiam através das senhas de racionamento. Foram
tempos muito difíceis, mas lá nos criámos e ainda hoje, felizmente, todos os
oito irmãos estão vivos.
A nossa entrevistada, como já
referimos, começou a trabalhar no campo desde tenra idade, logo depois de
concluída a 3ª classe da instrução primária, que frequentou na escola dos
Foros. Como faz questão de salientar, “os tempos eram difíceis e havia que ganhar
para a casa. Então, primeiro eu, e pouco depois a minha irmã, que era um ano e
pouco mais nova, começámos desde cedo a contribuir para o sustento da família.
Mais tarde, já eu era mais crescida, o meu pai começou a sua actividade de
carreiro e, aí, para além da jorna sempre pequena, lá ganhava mais 2 litros de azeite e 50 kg . de farinha por mês e
um porco por ano. E as coisas começaram a compor-se um pouco mais.”
E continuou: “Fiz ao longo da vida
praticamente todos os trabalhos agrícolas que, nessa altura, e sem o auxílio das
máquinas que há hoje, eram duros e conseguidos pela força dos braços.
Entretanto o tempo foi passando e quando já tinha os meus 20 anos casei-me com
o que foi meu marido durante 52 anos – Manuel Lopes. O casamento deu três
frutos: Maria Augusta, Delmira e Adriano. Os filhos foram crescendo,
juntaram-se com as namoradas (ou, como então também se dizia, amigaram-se) mas
todos eles se casaram formalmente mais tarde. E, como nas histórias de amor,
todos são felizes, o que me enche de
alegria.”
Mas não foram apenas os trabalhos
rurais que preencheram o tempo da D. Joaquina, como esclareceu:: “Toda
a vida gostei de costurar. Fiz muitas rendas, trabalhos em malha e neste
momento tenho estado dedicada a fazer talegos para os telemóveis, a fim de
serem vendidos ou sorteados no pavilhão que o Abrigo irá ter, como
habitualmente, na Feira da Luz, em Setembro. É uma forma de passar o tempo e,
ao mesmo tempo, ser útil à Instituição.
D. Joaquina ainda nos disse que
recorda frequentemente versos que aprendeu e decorou há muitos anos mas que, naquele momento, a
memória estava a pregar-lhe uma partida. Não faz mal; fica para uma próxima
oportunidade.