JOAQUIM
ANTÓNIO MARTINS
Num
destes primeiros dias de uma tímida Primavera, que ainda não se libertou do
Inverno, conversámos com uma das últimas “aquisições” do Abrigo, utente do
“Centro de Dia” há pouco mais de dois meses.
Joaquim António Martins é o seu nome,
nasceu em Julho de 1929 e já passou, portanto, por 86 primaveras.
Vamos
ver, então, o que tem para nos contar:
“Nasci
em Vale do Pereiro, freguesia de Santa Justa, concelho de Arraiolos. Sou o mais
velho de quatro irmãos. Andámos todos na escola que havia no lugar onde
nascemos. Fiz lá a terceira classe e só não conclui o último ano da instrução
primária porque, como eram muitos alunos a cargo de uma só professora, ela
pediu uma outra colega. Como não mandaram mais ninguém, durante três anos não
foi ministrada a quarta classe. Tive o azar de essa interrupção me ter
abrangido.”
Isso
significou uma alteração na sua vida…
“Exactamente.
Com a idade de dez anos terminei a minha carreira académica e fui logo “promovido”
a ajuda de gado, primeira etapa de um percurso em que fiz praticamente todos os
trabalhos agrícolas.”
E
foi essa a sua actividade ao longo da vida ?
“Não.
Teria uns dezanove anos comecei a trabalhar na CP, na construção e/ou reparação
das vias férreas. Durante uns tempos estive lá como eventual, mas depois
ingressei mesmo nos quadros da Companhia, onde me mantive cerca de trinta anos,
até atingir a idade da reforma.”
Percorreu
então vários locais de trabalho…
“É
verdade. Estive a trabalhar em várias estações e apeadeiros: Cabeço de Vide,
Estremoz, Fronteira, Évora, Évora-Monte, Casa Branca, Pinheiro do Sado e Paião,
onde me encontrava quando me reformei. Construí, reparei ou substituí muitos
quilómetros de via férrea, contribuindo assim para o desenvolvimento da empresa
e para a segurança dos passageiros.”
E
depois da reforma ficou a viver na estação do Paião ?
“Não.
Em devido tempo consegui adquirir uma casita ali no Bairro da CHE, onde ainda
hoje resido. Mas depois de reformado ainda me deslocava para o Paião, numa
motorizada, a fim de cultivar e tratar de uma hortita. Até que há cerca de 15
anos um AVC limitou-me fisicamente e tive de desistir dessa actividade.”
Mas
voltemos uns anos atrás. Perto de comemorar 60 anos de casado com Ilda da Silva Soares Pires Martins, o
nosso Amigo Joaquim recorda como tudo começou:
“Ainda
em Vale do Pereira, tinha eu dezasseis anos, conheci, por uma circunstância de
acaso, a Ilda, com menos três anos do que eu e que morava na estação do
Vimieiro. Dada a distância geográfica que nos separava só um tempo mais tarde
voltei a vê-la, porque os seus pais foram morar para Vale do Pereiro. Mas a
verdade é que, apesar dos anos de afastamento, eu nunca a tinha esquecido. E
então, a chama que parecia adormecida voltou a acender-se e com mais força. E
começámos a namorar ao sério se bem que, apesar de estarmos ambos já com mais
de vinte anos, tínhamos de namorar às escondidas, porque a mãe não queria o
namoro da filha, se bem que nunca tivesse quaisquer motivos ou razões de queixa
em relação a mim.”
Mas,
apesar de tudo, o namoro continuou:
“Sim,
e em 1956 casámo-nos. Mas, curiosamente, só uns seis meses antes é que a mãe da
Ilda lhe deu autorização para namorar. Mas, até lá, quantos castigos infligiu à
filha para impedir o namoro… Mas a verdade é que estamos casados há 60 anos e
fomos sempre felizes. Apenas a doença da minha mulher, que também sofreu um AVC
que a deixou ainda em pior estado do que eu, nos impediu de gozarmos a nossa
velhice. A minha mulher também aqui está desde Outubro. E quando à noite
regressamos a casa, é a minha filha que nos dá todo o apoio de que
necessitamos.”
Quando
no princípio da entrevista lhe perguntámos se ele estava sozinho aqui no
“Centro de Dia”, respondeu-nos que estavam cá três membros da família. Perante
a nossa surpresa, elucidou-nos: estou eu, a minha mulher e a minha filha Maria
Rita, que também está no Abrigo … mas como cozinheira.
Melhoras
para o casal, com os desejos de uma BOA PÁSCOA para todos os Utentes,
Funcionários(as), membros dos Órgãos Sociais, Colaboradores(as) e Leitores(as)
desta página.