MARIA
ISABEL MALTEZ
Utente
do “Apoio Domiciliário” desde 2011, a nossa entrevistada deste mês já passou
por oitenta e quatro Natais, mas não tem particulares recordações agradáveis
dos que viveu nos seus tempos de meninice.
“Nasci
e morava no Monte de Morganhos, perto dos Baldios e a minha mãe faleceu quando
eu e o meu irmão gémeo tínhamos apenas alguns meses de vida, pelo que não tenho
a menor memória dela. Éramos então seis irmãos a que se juntaram mais tarde três
raparigas, nascidas do segundo casamento do meu pai.”
E como era
vivido o vosso Natal?
“Órfã
de mãe e a viver com uma madrasta, quer os períodos festivos, quer os ditos
normais, não foram de felicidade e nem guardo boas recordações. A minha
madrasta nem sequer permitia que convivêssemos com a família da minha falecida
mãe, o que nos causava desgosto. Pelo Natal não havia brinquedos nem guloseimas
para ninguém, até porque éramos uma família grande. Por vezes matava-se uma
galinha ou um peru e, ocasionalmente, fazia-se um pouco de arroz doce para esse
jantar.”
E quanto a
escola?
“Eu e
o meu irmão gémeo andámos à escola, nos Baldios, com uma professora particular.
Frequentei até à 4ª classe mas não fiz o exame final porque a minha madrasta
convenceu o meu pai de que não precisava disso para nada.”
E depois?
“Com
14 anos fui servir para casa do sr. Francisco Malta, ali na Rua das Escadinhas.
Tinha sobretudo como missão servir à mesa, tratar das meninas e atender o
telefone. Estive lá até aos 18 anos. Como por essa altura já namorava o que
haveria de ser o meu marido, tinha eu dezanove quando nos juntámos e fomos
morar para o Monte do Picote. Casámos passados quatro anos, tendo sido padrinho
de casamento o sr. Mário Bailão, que era o motorista do sr. Malta. Aproveito
para referir que uma das poucas coisas que agradeço à minha madrasta foi o
facto de ela me ensinar a arte da costura. Quando saí de casa sabia fazer de
tudo como costureira, quer fato de homem quer de senhora.”
Mas foram
ficando pelo Monte do Picote?
“Não.
Anos depois fomos para o Ciborro, onde o meu marido guardava e tratava das
éguas, por conta do sr. Malta. E eu ia fazendo de tudo, desde apanhar azeitona
até ordenhar vacas e ovelhas. Entretanto nasceu a nossa filha – a Catarina –
que aqui andou à escola e se fez mulher.”
E agora, nova
mudança…
“Depois
do Ciborro viemos então para Montemor. Primeiro, a título provisório, para uma
casa na Ermida de Na. Sra. da Visitação e, depois, para a Rua dos Almocreves,
onde nos mantivemos durante trinta e tal anos. Dali fomos então para a Travessa
das Ferrarias, onde estamos há vinte anos.”
E como surgiu a
ideia de pedir o “Apoio Domiciliário”?
“A
ideia e a necessidade. O meu marido, naturalmente também já reformado, tem um
grave problema de saúde e eu também já não posso fazer certas coisas da lida da
casa, pelo que resolvi pedir ajuda ao Abrigo. Ainda que não esteja em regime de
permanência, desloco-me aqui amiudadas vezes em visita, quer participando em
passeios, quer assistindo às festas que se vão realizando com os utentes.”
E a finalizar a
nossa conversa, a D. Maria Isabel ainda nos revelou um dos seus talentos, ainda
que fizesse questão de salientar que já não exerce essa aptidão:
“Tinha
um dom natural para responsar. Sabe o que é isso? E sem esperar pela
resposta foi logo explicando: “Quando alguém perdia algo de valor, mesmo
que fosse só estimativo, vinha ter comigo para que eu lesse o responso, isto é,
que através do meu dom pudesse saber se viria ou não a encontrar a peça
perdida. E quando eu dizia para a pessoa acreditar que viria a encontrar o que
perdera, isso era certo e sabido. Uma vez, houve uma pessoa que perdeu um
objecto e o tempo ia passando sem que aparecesse. Eu continuava a dizer-lhe
para ter esperança e a verdade é que, passado um ano, esse tal objecto
apareceu."
Mas continua com
esse dom?
“Sim,
mas deixei de fazer isso porque era muito violento. Eu ficava cansada, sem
forças e, portanto, desde há tempo que recusei definitivamente fazer esse
procedimento.”
Obrigado, D.
Maria Isabel pelo tempo que nos dispensou.
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P.S. – Aproveitamos a oportunidade para
endereçar a todos os Utentes, Familiares, membros dos Órgãos Sociais,
Funcionários(as), Colaboradores e a todos os nossos leitores os melhores votos
de um Natal Feliz e Ano de 2019 sobretudo com saúde.