ARSÉNIA
MARIA ESPONGINHA
Este
mês trazemos à nossa página uma cara bonita que celebra 85 anos no próximo dia
3 de Março.
Sendo a mais velha de sete irmãos, nasceu no Monte do Poço da Rua, nos arredores da estação de Casa Branca, na casa da avó. “Ainda com poucos meses fui morar para o Monte do Lagar, no Escoural e depois para o Monte do Outeiro de Santa Sofia”
Nunca andou à escola. Era a sina de
quem, naqueles tempos, vivia sobretudo afastado dos meios urbanos. A
aprendizagem mais importante fazia-se no trabalho, muitas vezes duro para a
idade, mas necessário para equilibrar a economia doméstica. E a pequena Arsénia
não fugiu à regra.
“Primeiro
tive de ajudar a criar os meus irmãos a fim de a minha mãe poder ir, ela
própria, trabalhar. Depois, exactamente no dia em que fiz 12 anos, calhou-me a
mim iniciar o que seria toda uma vida de labuta constante. Comecei por ir
mondar trigo, na companhia da minha mãe, por conta de uma família de Évora, de
apelido Soares, que tinha propriedades que iam de Santa Sofia até praticamente
àquela cidade.”
Especialmente para as raparigas mais
jovens, nessa altura o namorar era, salvo raras excepções, praticamente tarefa
impossível.
“A
minha mãe só me deixou namorar quando atingi os dezoito anos. Dizia ela que
primeiro tinha que aprender a ser mulher, para um dia poder assumir a
responsabilidade de gerir uma casa. E graças a Deus aprendi.”
E foi então que começou o romance de
amor com um seu colega de trabalho, de nome Laurentino
José Piteira. E passados 4 anos deram o nó.
“Casámos
vai fazer 63 anos. Eu tinha 22 e o meu marido estava com 27 anos. Nunca tivemos
filhos, ainda que eu gostasse muito de crianças. Nos primeiros anos fomos
adiando porque quisemos primeiro estabilizar a nossa vida. Depois, os anos
foram passando quase sem darmos por isso e a oportunidade passou.”
Recordemos
então algumas fases desses primeiros anos de vida em comum: “Já
casados, fomos residir para o Monte de Vale de Rei, perto da Graça do Divor.
Continuávamos a trabalhar os dois para a família Soares. Ali morámos seis
anos.”
Mas
a vida ainda lhes reservava muitas outras voltas: “Labutámos
muito para nos orientarmos e levarmos uma vida limpa, digna e sem dívidas. E
por isso procurámos sempre o que nos parecia ser o melhor para nós. Viemos
depois para o Monte dos Tanques, junto a S. Mateus e mais tarde demos um salto
maior. Fomos para os arredores de Palmela para uma exploração pecuária.
Estivemos lá até uns meses depois do 25 de Abril.”
E regressaram a Montemor.
“Sim,
finalmente comprámos e viemos residir para uma casa no Largo do Terreiro Novo,
já dentro de Montemor. Empregámo-nos primeiro na Quinta da Cruz Velha, da D.
Nazaré Mousinho, onde tomávamos conta da vacaria e algum tempo depois na
Herdade da Amendoeira, da família Salgueiro.”
Mas não acabaram aqui as andanças da
D. Arsénia e do Sr. Laurentino.
“Algum
tempo depois, o meu cunhado Joaquim Abel, que estava na Suiça, perguntou-nos se
não quereríamos ir lá trabalhar uma temporada. Como tinhamos adquirido
recentemente a casa, recorrendo a empréstimo bancário, aceitámos o convite para
ver se nos conseguíamos ver livres desse encargo. Estivemos lá por duas vezes,
num total de 15 meses. Como trabalhámos os dois e os salários eram bons, quando
regressámos pudemos pagar o que faltava do empréstimo.”
E a seguir a essa aventura ?
“Ainda
trabalhámos durante muito tempo, até que a idade e sobretudo a doença nos
impediu de continuar. Foi assim que acabámos por solicitar ajuda ao Abrigo.
Durante seis anos prestaram-nos “Apoio Domiciliário”. No entanto, o estado de
saúde do meu marido foi-se agravando e, tendo havido uma vaga como residente,
entrou o meu marido e eu comecei a utilizar o “Centro de Dia”, situação que
ainda se vai mantendo.
D. Arsénia: desejamos-lhe as melhoras
do seu marido e que a Senhora vá continuando com esse espírito jovem durante
muito tempo.