segunda-feira, 8 de outubro de 2012

OS NOSSOS UTENTES



 JOAQUIM MARTINHO DOS SANTOS

O nosso entrevistado deste mês é sobretudo conhecido como “Joaquim da Cabrela”, alcunha que lhe vem, como é habitual nestes casos, do facto de ter nascido, há 80 anos, num local com este nome. E foi no Monte da Cabrela que viveu até aos 27 anos, altura em que se casou com Florentina da Visitação Catarro.

Labutou no campo até aos 30 anos, após o que enveredou pela actividade de pedreiro. Aprendeu depressa a profissão e passados dois ou três anos tentou a sua sorte em Lisboa, visto não achar justo já estar a exercer as funções de oficial mas a ganhar como servente.

“Na capital comecei ao serviço do empreiteiro Jaime Bibe, mas durante os treze anos em que trabalhei por aqueles lados conheci outros patrões. Por causa da escola do meu filho, estava lá sozinho. Aluguei um quarto com cozinha e vinha a casa, de motorizada, quase todos os fins-de-semana. Só durante as férias escolares é que tinha mais tempo a família junto de mim.”

O nosso amigo Joaquim recorda ainda que depois esteve em Setúbal durante cerca de três anos, após o que se mudou para a Moita do Ribatejo. “Estive aqui a trabalhar na Novobra, ao serviço da qual percorri quase todo o país, juntamente com os engenheiros da firma, a marcar obras. Durante este tempo fiz dois cursos de especialização, numa escola técnica da Moita”.

Regressou a Montemor por volta de 1976, convidado para fazer parte de uma cooperativa de construção civil. “Tudo parecia ir correr às mil maravilhas. Tínhamos trabalho, fizemos bairros em S. Cristóvão e Foros de Vale de Figueira e várias moradias em Montemor. Ao fim de três anos, as coisas começaram a correr mal, por circunstâncias que agora já não quero sequer recordar, e fomos forçados a desistir. Comecei por ter muitas esperanças neste projecto, mas acabou por ser o passo mais mal dado da minha vida.”

Joaquim Martinho dos Santos ingressou depois nos quadros da Câmara, como responsável pelos trabalhos da sua especialidade. Aqui permaneceu durante 24 anos, até se reformar. 

“Entretanto, a minha mulher, que há vários anos se tinha lesionado seriamente na coluna, devido à queda de uma oliveira, quando procedia à apanha de azeitona, viu o seu estado de saúde a agravar-se progressivamente e fomos forçados a recorrer ao Abrigo. Primeiro no “Centro de Dia” mas, devido ao facto de, pouco depois, ela ter fracturado uma perna, a nossa situação piorou e acabámos por aqui ficar como residentes. Infelizmente, a doença foi mais forte e a minha companheira de toda a vida acabou por falecer em Março de 2011.”

Conhecido de várias gerações de pescadores desportivos, o Sr. Joaquim Martinho dos Santos era figura incontornável em todos os concursos de pesca à linha nas barragens e albufeiras da região, e não só. “Desde miúdo que tenho a paixão pela pesca. Dei os meus primeiros passos com apetrechos rudimentares e, mais tarde, fui-me munindo com material já mais adequado à alta competição. Claro que a idade já não me permite desfrutar tão frequentemente do meu passatempo favorito, mas ainda o ano passado fui a um concurso promovido pelos Serviços Sociais da Câmara.”

Como nos revelou, o facto de já não poder exercer, com a assiduidade que gostaria, aquela actividade lúdica que, ainda assim, exige esforço físico, isso não significa que desperdice os seus tempos livres: “Troquei as canas de pesca pelas ferramentas. Ultimamente tenho-me dedicado a construir, em madeira, miniaturas tão diversas como os vários utensílios de cozinha, instrumentos de trabalho agrícola e outras peças que acodem à minha imaginação. Neste momento estou a arquitectar um barco, que até à sua conclusão ainda tem muitas voltas a dar”

Sabemos que muitos destes trabalhos têm sido expostos em diversos eventos e mostras artesanais, sempre com a admiração de quem sabe apreciar esta arte na sua forma mais pura.

Aqui deixamos algumas fotos ilustrativas dos seus trabalhos.