terça-feira, 19 de junho de 2018

OS NOSSOS UTENTES

PRINCEPELINDA ROSA FERREIRA


Por coincidência, o mês passado entrevistámos o sr. Calino Francisco, que então nos revelou as circunstâncias em que ficou com o nome que por engano do registo lhe foi atribuído quando, na realidade, deveria chamar-se Aquilino. Pois este mês falámos com a sua esposa – Princepelinda – que, também não conhece mais ninguém com esse nome e que, não sabendo por que motivo foi baptizada assim, também nunca chegará a saber, porque o padrinho faleceu ainda ela era uma criança.

Revelado este pormenor curioso, vamos saber mais pormenores da vida da D. Princepelinda:

“Nasci na Amoreira da Torre, aqui perto de Montemor, em 18 de Abril de 1937. Éramos oito irmãos, dos quais ainda, felizmente, estão vivos cinco. Só um deles era mais velho do que eu.”

Nesta altura da conversa surge normalmente a questão da escola…

“Felizmente que, quando eu tinha sete anos, fomos residir para a herdade da Maceira, do Dr. Cunhal, ali perto dos Foros de Vale Figueira. Acontece que existia lá um Posto Escolar pelo que, todos nós, aprendemos a ler e a escrever. Os mais velhos concluímos a terceira classe da instrução primária, que era o grau exigido. Só o mais novo de todos nós fez o exame da 4ª classe, mínimo na sua altura obrigatório.”

Claro que, com a saída da escola …
         
“Acabada a escola fui, como era normal, trabalhar no campo, que era também a actividade do meu pai e do meu irmão mais velho. Comecei por ir apanhar milho e, daí para diante, nunca mais parei, tendo feito os trabalhos mais diversos.”
       
E chegou a altura dos bailaricos e de todas essas festanças que são próprias da mocidade.
         
“Pois, mas comigo não foi bem assim. O meu pai nunca me deixou ir a bailes ou festas do género. Mas com 19 anos comecei a namorar. O Calino tinha vindo da zona das serras de Cabrela morar para o Freixo do Meio, também junto aos Foros de Vale Figueira. Foi então que nos conhecemos e o namoro aconteceu. Mas ainda que o meu pai não se opusesse ao namoro, continuava a não me deixar ir aos bailes. Só os meus irmãos podiam ir.”
        
E, pelos vistos, encontrou logo o amor da sua vida.
        
“Namorámos dois anos e, ao fim desse tempo, juntámos os trapinhos, como se costuma dizer. Fomos morar para os Foros de Vale Figueira e ainda não tinha feito um ano de estarmos juntos resolvemos então casar oficialmente. Aqui nasceu-nos um filho que, infelizmente, faleceu quando tinha apenas sete meses. Nos anos seguintes continuei a trabalhar no campo. Entretanto o meu marido, que fora sempre trabalhador rural, quando se transferiu para os Foros começou a aprender a profissão de pedreiro, pelo que ele mesmo construiu a casita onde morávamos.”
         
Mas, pelo que sei, a vossa vida ainda deu mais uma volta…
        
“Pouco depois do 25 de Abril, o meu marido tentou a sua sorte emigrando para a Suiça. Primeiro foi sozinho e quando lá arranjou uma casa fui eu juntar-me a ele. Estivemos neste país durante 9 anos. O Calino como pedreiro e eu arranjei lugar num hotel onde arrumava e fazia a limpeza de quartos. Quando regressámos, para a nossa casa nos Foros, eu já não fui trabalhar, nem para o campo nem para qualquer outro sítio. O meu marido, sim, continuou a exercer a profissão de pedreiro.”
         
E os anos foram passando …
        
“É a lei da vida. O meu marido começou a não poder trabalhar por causa de dores reumáticas e tivemos de vender a nossa casa nos Foros de Vale Figueira e de arrendar outra aqui em Montemor, para estarmos mais próximos do Abrigo, de onde começámos a receber o apoio domiciliário, em Junho de 2015. Até que em Maio deste ano de 2018 ingressámos no “Centro de Dia”. E por aqui vamos estando. Entretenho-me a jogar ao loto, a ir ao ginásio e, especialmente em casa, leio alguns jornais, revistas e folhetos que me chegam às mãos.”
         
Obrigado, D. Princepelinda, pelo tempo que nos dispensou. Votos de boa saúde para o casal.

sexta-feira, 15 de junho de 2018

SÓ VELAS FORAM CINQUENTA E UMA

            É verdade. Substituindo e tendo herdado a vocação do Asilo de Mendicidade, fundado em Janeiro de 1914, o actual Abrigo dos Velhos Trabalhadores de Montemor-o-Novo assinalou o seu 51º aniversário no dia de Santo António.

            E houve festa rija, parecendo até que os nossos idosos rejuvenescem nestes dias.

            Como aperitivo foi servida aos utentes e convidados a Marcha do Abrigo, que já dias antes se tinha exibido na Praça da República no desfile organizado pela União de Freguesias. Receberam, naturalmente muitos aplausos.



            Depois houve a cerimónia oficial, com a presença de representantes oficiais da Câmara Municipal (que por imperativos de agenda só mais tarde compareceu e disse de sua justiça), da União de Freguesias, da Guarda Nacional Republicana, da Cooperativa Caminhos do Futuro, da Associação “O Girassol”, da Associação “Porta Mágica”e, naturalmente da Direcção do Abrigo, cujo presidente abriu a sessão.


            Seguiu-se a actuação do Grupo Coral Cant’Abrigo que sob a batuta do maestro André Banha interpretou vários temas de música popular.


Ainda se ouviam as ovações quando foi anunciada uma surpresa musical. Perante a expectativa geral e, aos pares, foram subindo ao tablado grande número dos Funcionários e Funcionárias do Abrigo que, não querendo privar todos os presentes do seu reconhecido talento, interpretaram em conjunto uma conhecida e mais ou menos temperada Açorda. Foi o delírio. E todos os presentes, sem excepção, reconheceram que há por ali muitos talentos perdidos…


Falta falar ainda de uma outra atracção: o excelente lanche, servido por mãos competentes e atentas que, sucessivamente, nos foram servindo apetitosas sardinhas, frangos, febras e entrecosto, com a qualidade bem demonstrada por três mestres nos assadores: António Joaquim Falcão, João Alpiarça e Manuel Aldinhas dos Santos. Claro que obedecendo às exigências específicas de cada caso, havia fresca e bem temperada sangria, sumos, águas e vinho (pouco). E finalmente, o doce e o bolo de aniversário, como é da praxe.


Uma última palavra para o organista Telmo Falcão, que animou toda a tarde e serviu a música adequada para o baile que se foi prolongando.


Estão de parabéns todos os que, de alguma maneira, contribuíram para o êxito da festa.