terça-feira, 15 de outubro de 2019

Os nossos utentes

JOAQUIM ANTÓNIO MARQUES VIDIGAL  


              Oriundo do concelho de Mora, mais exactamente de Pavia, nasceu numa família de 6 irmãos que ele próprio diz poder ser considerado como um dos do meio. E o Sr. Joaquim Vidigal esclarece que só os dois mais novos frequentaram a escola e concluíram a 4ª classe, grau académico que naquela altura não era muito frequente entre a população rural. Quanto ao seu estado civil diz-nos ser divorciado e viúvo, e mais à frente explica porquê.

         “É verdade. Os mais velhos, eu incluído, não tivemos hipóteses. Curiosamente, eu fui, digamos, a transição, uma vez que ainda por lá andei durante quinze dias, tendo como mestre o professor Nascimento. Contudo, passado aquele brevíssimo período escolar, o meu pai retirou-me a fim de ir guardar uma vara de porcos. Tinha na altura 8 anos. Após os 3 ou 4 meses no montado, para engorda com boleta, os animais eram todos vendidos para abate e consumo. Alguns chegavam a atingir os cem quilos. Era a qualidade ainda hoje apreciada do porco alentejano.”

         Quando terminou esse ciclo, teve de mudar de actividade …

         “Terminado esse período fui para ajuda do meu pai, que era vaqueiro por conta do antigo deputado na Assembleia da República, Dr. José Mexia, de Mora. E esta foi a minha vida até aos dezasseis anos.”

         E assim foi continuando pela vida fora?

         “Não. Mais ou menos por esta idade mudei de profissão. Deixei a pecuária e, ainda por conta do mesmo patrão, virei-me para a agricultura, sobretudo nas herdades dos “Desprates” e do “Cré”, ambas também perto de Pavia. Foi esta a minha vida até perto dos 33 anos, altura em que vim para Montemor.”

         Mas, amigo Vidigal, temos de voltar um pouco atrás. Deve ter sido durante este período que namorou e casou. Não é verdade?

         “Tem razão, sim senhor. Durante o tempo em que trabalhei na agricultura vim a conhecer a Jacinta, com quem casei e vivi durante perto de 28 anos. Porém, devido a problemas que a vida por vezes se encarrega de nos trazer, acabámos por nos divorciar. Mais tarde voltei a casar, agora com a Maria de Jesus, com quem vivi cerca de 30 anos, e que infelizmente faleceu há oito anos. Do primeiro casamento tenho dois filhos, um rapaz e uma rapariga, já casados e a residirem também aqui em Montemor.”

         Voltemos, então, à sua actividade profissional.

         “Como já disse, por volta dos trinta e três anos vim para Montemor e empreguei-me na firma Barradas & Barradas, onde trabalhei como operador de máquinas. Fazia terraplanagens, deslocações de terras e tudo o que era necessário dentro das nossas especialidades. Estive aqui 22 anos, mas um dia, em resultado de um conflito laboral, que teve de ser resolvido em Tribunal, resolvi sair e, quinze dias depois, já estava empregado na “Prediana”, ali na Zona Industrial da Adua. E aqui estive até me reformar, depois de 14 anos de actividade.”

         E o que é que o levou a ingressar no “Centro de Dia” do Abrigo?

         “Foi devido a questões relacionadas com a falta de saúde. Primeiro tive graves problemas cardíacos, depois foi um AVC, de que resultaram o impedimento de fazer as coisas mais básicas. Como os meus filhos estavam empregados, para além de terem as suas próprias vidas e não me poderem dar a assistência que eu necessitava, decidi em boa hora recorrer ao Abrigo dos Velhos Trabalhadores, onde estou desde Junho deste ano. Tenho esperanças de que numa próxima oportunidade possa ser transferido para a condição de “Residente”, o que me tranquilizaria quanto ao futuro.

         Obrigado pelo tempo que nos dispensou, Sr. Vidigal. As suas melhoras são os nossos votos.