sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

OS NOSSOS UTENTES

CAPITOLINA MARIA  (PITEIRA)


Vamos encerrar as entrevistas deste ano com uma Senhora cuja família é bem conhecida de todos nós.

Nasceu em S. Cristóvão há 93 anos, mais propriamente no dia 9 de Outubro de 1922. É a mais velha de três irmãos (2 rapazes e ela própria) e começou bem cedo a conhecer as agruras da vida: 

“O meu pai era carvoeiro e vinha numa carrocinha com um burro trazer o carvão a Montemor. Dentro do que a minha idade permitia, lá o ia ajudando em diversas tarefas, reunindo lenha ou toros com que se alimentavam os fornos da carvoaria. É claro que quanto a escola nem pensar nisso. E foi assim que decorreu a  minha vida até aos 11 anos, idade que tinha quando a minha mãe faleceu. Os meus irmãos tinham, então, 9 e 6 anos.”

Se a vida não tinha sido fácil, percebe-se que a partir daí tudo se agravou:

“Este triste acontecimento foi um rude golpe para todos nós. Como já disse, tinha onze anos e foi precisamente com esta idade que vim trabalhar para casa do Sr. Francisco Simões Carneiro, que era 2º comandante dos Bombeiros e morava na Rua 5 de Outubro, ou Rua Nova, como era mais conhecida. Desde criança que sentia um certo entusiasmo com a cozinha. E foi nesta casa que aprendi e fui desenvolvendo os meus conhecimentos nesta arte. Com catorze anos fui servir para casa da D. Celeste Falcão, mãe de Guilhermina Marques. A senhora morava ali na esquina da Ruinha com a Rua do Calvário, junto ao Jardim Público. Recordo que depois da senhora falecer, esta casa foi abandonada e esteve em ruínas durante muito tempo, só conhecendo a sua reabilitação há relativamente poucos anos.”

E por quanto tempo por lá se manteve?

“Estive ali até aos 21 anos, idade com que me casei, depois de ter namorado cerca de 3 meses.”

Estranhámos e perguntámos se apenas com três meses de namoro ficou logo com a certeza de que iria dar o passo certo. E a resposta veio pronta:

“Aquele que viria a ser o meu marido – Joaquim Francisco Piteira - trabalhava como carpinteiro de carros (carroças) na oficina do Sr. Serra, conhecido por “Segeiro”. Então, dada a proximidade entre o seu local de trabalho e a casa onde eu servia, o conhecimento aconteceu naturalmente. O meu pai entretanto já tinha falecido há quatro anos atrás, eu vi-me sozinha e decidi que era altura de encaminhar a minha vida. Nunca tinha namorado e ninguém tinha qualquer coisa a apontar-me. E logo que conheci aquele rapaz fiquei com a certeza de que era a pessoa certa e, felizmente, não me enganei. A minha sogra morava na Ruinha e, como depois vim a saber, estava sempre a perguntar ao filho quando é que ele me levava. Então, um dia aconteceu. Fugimos, mas não foi para muito longe porque ao lado da minha sogra havia uma outra casa e foi lá que nos instalámos. Pouco tempo depois regularizámos oficialmente a nossa união, numa cerimónia celebrada na Igreja do Calvário pelo Padre Cerca. Foi naquela casa que nasceu o nosso primeiro filho.”




A prova mais evidente de que a D. Capitolina acertou na escolha do seu marido e de que estiveram sempre muito ligados afectuosamente, está no facto de terem tido 7 filhos (5 raparigas e dois rapazes) felizmente ainda todos vivos…”

“É verdade. Graças a Deus. E a sucessão está garantida, porque tenho 16 netos, os bisnetos já são 11 e com um outro a caminho.”

Mas vamos lá a retomar o seu percurso de vida.

“Como já disse, naquela casa da Ruinha nasceu o meu primeiro filho. Entretanto, as carroças começaram a desaparecer, sendo aos poucos substituídas por carros, carrinhas e camionetas. E a oficina do sr. Serra começou a sentir essa mudança, traduzida em menos trabalho. Daí que, em determinada altura, o meu marido foi convidado a ingressar na firma José Joaquim Cornacho & Filhos, onde acabou por ficar durante mais de quarenta anos. E ali, desde reparações de maquinaria agrícola, serviços de carpinteiro, forjador e ferramenteiro fez praticamente de tudo. Quando entrou para a firma fomos morar para o chamado “Monte dos Cornachos” e posteriormente para uma casa junto à oficina.”

Foi um bom período da sua vida…

“Exactamente. Sobretudo até o meu marido falecer, tinha eu 66 anos. Nessa altura fui morar para o Bairro de N. Sra. da Visitação, onde residi mais de 20 anos.”

Está no Abrigo, na vertente “Centro de Dia”. E à noite ?

“À noite e durante os fins de semana vou, alternadamente, para casa de cada uma das minhas filhas.”

Já nos disse que nunca andou à escola enquanto criança. E depois de adulta ?

“Há uns anos, já então era viúva, andei ali no Convento de S. Domingos, mas por motivos de doença tive de desistir. Ainda aprendi uns rudimentos, mas com o passar do tempo fui-me esquecendo.

E aqui no Abrigo desenvolve alguma actividade ?

“Aproveito os passeios que o Abrigo organiza, e já fui a vários lados, nomeadamente a Fátima e Vila Viçosa. Também aqui em Montemor, e para além das minhas voltas pelo espaço exterior, participo igualmente nas visitas que fazemos regularmente a vários locais.”

Mas a D. Capitolina sabe que existe aqui um grupo de teatro e um grupo coral. Nunca esteve tentada a experimentar ?

“Olhe, ainda ontem (dia 15 de Dezembro) assisti à Festa de Natal, feita pelos utentes do Abrigo, e gostei de ver. Aliás, devo confessar que já pensei ir para o grupo coral, mas depois acabo por desistir da ideia.”

Porque ficámos convencidos de que a concretização deste desejo é só uma questão de tempo e de um empurrãozinho, fomos com a D. Capitolina junto do maestro André Banha dar-lhe conhecimento de que estava ali uma possível futura coralista. Ficou logo combinado que iria comparecer na segunda-feira seguinte para o seu primeiro ensaio.

Para terminar, a nossa entrevistada ainda quis acrescentar o seguinte:

“Olhando para o que foi a minha vida, reconheço que, a par das contrariedades e desgostos que sempre acontecem, sobretudo quando desaparecem os entes queridos, tive uma vida feliz. Fui bafejada pela sorte com o marido que escolhi e com os filhos e filhas que tenho e que ainda hoje são os meus melhores amigos.”


Resta-nos desejar à D. Capitolina, a todos os Utentes, Funcionários, Colaboradores, membros dos Órgãos Sociais, e respectivas Famílias, um BOM NATAL e um NOVO ANO sobretudo com muita saúde!


quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

HOUVE FESTA DE NATAL NO ABRIGO




“Fechemos os olhos. Assim será mais fácil para todos viajarmos 30 anos para trás e chegarmos ao ano de 1985. Exactamente. Mil novecentos e oitenta e cinco. Imaginem-se todos então com menos 30 anos….”

Foram estas as primeiras palavras que deram o mote ao que se seguiria: a evocação do Montemor daquele tempo, com os seus conhecidos estabelecimentos comerciais e de restauração, com as figuras carismáticas da época e as actividades lúdicas e desportivas que animavam a então ainda vila de Montemor.

E recordando a azáfama que, tal como hoje, se fazia sentir por alturas do Natal, foram desfilando perante a assistência, que enchia completamente o salão, os componentes do grupo cénico do Abrigo, que desempenharam com talento e desenvoltura os papéis que lhes foram distribuídos.

A par de diversas cenas com que os vários actores e actrizes iam evocando o quotidiano da vila, esteve o Leopoldo Gomes a interpretar um locutor que, sozinho, na noite de Natal, estaria de serviço aos microfones da velhinha Rádio Almansor.

E eram então muitos os ouvintes, com a telefonia junto a si, que escutavam o programa dessa noite especial, ligando a pedir temas que dedicavam a familiares ou amigos. E foi assim que escutámos “Gotinha de Água”, “Apita o comboio”, “Pera Verde”, “Romã”, “Danúbio Azul” (que uns quantos pares logo aproveitaram para valsar), “Ceifeira” e várias canções alusivas ao Natal, que o Grupo Coral Cant’Abrigo, composto, como se sabe, por utentes desta Instituição, tão bem interpretou justificando por isso a recolha de fartos aplausos.


José Manuel Brejo e Maria do Céu Mestrinho conduziram o espectáculo como bem sabem, enquanto o maestro André Banha dirigiu os seus coralistas.

Para além dos nomes já citados, interpretaram os textos os(as) seguintes utentes: Albina, Angelina, Salvador, Basilissa, Joaquim da Cabrela, António Lopes, Narcisa, Mariana, Deonilde e as suas “crianças” Maria Elisa e Vina.

No final foram distribuídas as habituais prendas e servido um farto lanche.

Até para o ano e um BOM NATAL para todos!