terça-feira, 24 de dezembro de 2013

VISITA DE BOAS FESTAS


No passado dia 20 de Dezembro, recebemos na nossa Instituição a Presidente da Câmara Municipal de Montemor-o-Novo, Hortênsia Menino, que se fez acompanhar pelos vereadores João Marques, Palmira Catarro e António Pinetra, com o intuito de desejar à Direcção, trabalhadores e utentes do Abrigo, os seus votos de Boas Festas.



Ainda assim, esta visita contou também com a Inauguração e descerramento das placas respectivas ao encerramento do projecto “Aquisição de Equipamentos para Lar, Centro de Dia e Apoio Domiciliário”, do PRODER.



Mais uma vez, e em prol da constante melhoria da qualidade de vida dos nossos utentes, instalações e equipamentos, é com muito orgulho que damos por encerrado mais um capítulo da nossa história, que tão bem dignifica e enaltece o Abrigo dos Velhos Trabalhadores.

A todos, endereçamos os mais sinceros votos de Boas Festas, desejando, como sempre, Saúde e Humanidade.
Feliz Natal!


quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

AQUI HÁ NATAL...

O NATAL NO ABRIGO


Tão certo como haver Natal é a realização, no Abrigo dos Velhos Trabalhadores, da festa que celebra a natividade.
E quando se fala em Festa de Natal vem logo, por associação, a tradicional representação teatral que envolve alguns dos nossos utentes.


Este ano, e numa versão, mais que livre, da história que todos nós ouvimos contar na meninice, foi levada à cena a peça intitulada “A Carochinha, o Leopoldo Ratão e o Menino Jesus”.
Como sempre, o José Manuel Brejo foi o responsável pelo texto, pela encenação e pela direcção de actores. À Céu Mestrinho, para além de desempenhar o principal papel, ainda teve a seu cargo o variado guarda-roupa.
E na terça-feira, 17 de Dezembro, uma sala completamente esgotada riu e aplaudiu as peripécias que se iam sucedendo com o desenrolar da história. Aqui e ali uns breves lapsos de memória apenas serviram para arrancar mais umas quantas gargalhadas.
Para que a memória não os esqueça, aqui ficam registados os nomes dos artistas e das respectivas personagens a que deram vida.


Carochinha - Céu Mestrinho
Leopoldo Ratão  - Leopoldo Gomes
Joaquim Canino - Joaquim Martinho dos Santos
António Gatão - António Lopes
José Joaquim Até Ver - José Grulha
Mãe da Carochinha - Fabiana Santanita
Mãe de Leopoldo Ratão - Joaquina Linguiça
Mãe de Joaquim Canino - Otília Brejo
Mãe de António Gatão - Albina da Visitação
Mãe de José J. Até Ver - Joaquina Maria
Proprietária da Boutique - Angélica Ferro
Padre César - César Arraiolos
Estrela Anunciadora - Luísa Aldinhas
Virgem Maria - Maria Narcisa Ferreira
S. José - Joaquim Batalha

Terminada a récita, e após fartos aplausos, a nossa utente e poetisa Basilissa Senhorinha Pernas cantou um poema de sua autoria, alusivo à quadra que se atravessa.


A concluir esta tarde de cultura e recreio, ouviu-se pela voz de Maria Teresa Barreiros Seatra um poema, intitulado “O Tempo Depressa Passa”, da autoria de Cristina Caravela.
As intervenientes foram muito aplaudidas.
Seguiu-se, como também já era esperado, a distribuição de prendas a todos os utentes ,quer do Lar, quer do Centro de Dia, quer do Apoio Domiciliário, assim como aos colaboradores da Instituição.
A tarde não ficaria completa sem o competente lanche, que serviu à perfeição para o fim de festa.
A quem de alguma forma contribuiu para o êxito desta tarde, vão os agradecimentos sinceros da Direcção do Abrigo.
Mas este relato não ficaria completo se não referissemos que o grupo de teatro fez a ante-estreia da peça, no dia 12 de Dezembro, no Colégio-Jardim dos Sentidos (antigo Bercinho), também com assinalável sucesso.
E mais: Na próxima 5ª feira, dia 19 de Dezembro, nova representação, no ginásio do Abrigo, para a qual foram convidadas a assistir várias instituições do concelho.
Aproveitamos a oportunidade para endereçar um Feliz Natal e excelente Ano Novo, sobretudo com saúde.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

OS NOSSOS UTENTES

LEOPOLDINA MARIA VIEIRA BENAVENTE

Vamos encerrar mais este ano de conversas com os nossos utentes, ouvindo uma senhora de 86 anos cuja memória é prodigiosa. Lembra-se de pormenores que, a serem todos aqui relatados, daria para duas páginas de jornal. Mas vamos então contar alguns. 

A D. Leopoldina nasceu em 1927, e dos seus primeiros anos só recorda privações e dificuldades. Tendo nascido em S. Geraldo, onde viveu até aos dois anos, passou depois para o Monte das Gigantas e, sucessivamente, a família morou em vários montes.

“A vida era de tal forma difícil que os meus pais, com sete filhos, tinham enormes dificuldades para o sustento da casa e, então, nem sempre havia dinheiro para pagar as rendas. O trabalho também não era certo e daí as constantes mudanças, porque não podíamos contar com a compreensão e bondade dos proprietários. Só quando os mais velhos começaram a trabalhar é que a nossa vida se alterou ligeiramente.”


Mas as melhorias não permitiram, por exemplo, que a criança que era então a D. Leopoldina frequentasse a escola.

“Era para mim um desgosto enorme ver outras crianças irem aprender a ler e eu não poder ir. E havia vários motivos para que assim acontecesse. As dificuldades económicas e a distância que tinhamos de vencer eram os principais obstáculos. Para além de que, nesses tempos, a instrução escolar não era considerada uma prioridade. Comecei a trabalhar muito cedo, não me recordo exactamente com que idade, mas lembro-me que aos dez anos já ia apanhar azeitona. Vencia, ou tentava vencer, os frios, pouco protegida em termos de roupa, com uns sapatos de borracha muito usados e, como xaile, uma saia velha da minha mãe. Ganhava cinco tostões por cada cesto que enchia, mas tinha dias em que, por causa do frio que me engadanhava, nem um cesto conseguia apresentar.”

Aos 14/15 anos  já trabalhava como uma mulher, merecendo e ganhando a jorna correspondente. E foi nesta altura da nossa conversa que surgiu uma curiosa revelação:

“Se comecei a trabalhar cedo, também cedo comecei a namorar. Tinha 12 anos quando tive o primeiro namorado que, é claro, tinha a mesma idade que eu. Chamava-se Manuel João. Andávamos os dois à monda no Monte das Taipas e, conversa puxa conversa, começámos a namoriscar. Nessa altura morava eu na Courela do Guita. Um dia disse-lhe onde era a minha casa e combinámos que ele iria lá falar comigo no Domingo seguinte. Não disse nada à minha mãe, mas comecei a fazer os preparativos. Limpei muito bem a rua do monte, inclusivamente andei a varrer a vereda por onde ele haveria de passar, arranjei-me com o melhorzinho que tinha, e aguardei. A minha mãe assistia a tudo isto sem me dizer fosse o que fosse. E eu também nada lhe disse. A nossa casa, apenas de rés-do-chão, tinha uma empena alta e lá no cimo um postigo. Como não havia janelas, esta era a única hipótese que tinha de ver e falar com o rapaz. Então, coloquei uma arca junto à parede e em cima desta uma cadeira, pois só assim o poderia ver. Mas fiz mais: no lado de fora ainda pus uns tijolos para o namorado se empoleirar e ficar mais próximo do postigo. Lá falámos o que tinhamos a falar e quando chegou perto do sol posto o rapaz foi-se embora.”

E não houve problemas com a sua mãe?

“Ai não, que não houve. Mal desci do meu poleiro a minha mãe caiu-se comigo, deu-me uma valente tareia e mandou-me acabar desde logo com o namorico.”

E pronto, o assunto ficou aí completamente arrumado…

“Nada disso. Começámos então a escrever-nos numa correspondência que durou cerca de três anos. Como já disse, eu não tinha andado à escola e, portanto, não sabia ler nem escrever. Então, era uma filha do sr. Gil  ferrador que me escrevia as cartas e depois me lia as que me eram dirigidas. Mas era uma carga de trabalhos. Mas tudo ficou por aí, tendo cada um de nós seguido a sua vida.

E depois, perguntei eu ?

“Teria já cerca de dezoito anos quando comecei a namorar o que viria a ser o meu primeiro marido, Joaquim Maria Cartaxo. Tinha vinte e quatro anos quando nos juntámos e fomos morar para o Moinho de Vento. Tempo depois fui trabalhar para casa da D. Nazaré Mousinho, que tratou de nos casar pelo Registo e pela Igreja. Deste casamento nasceram dois filhos, um que faleceu quando tinha três anos e outra, felizmente viva e de boa saúde, casada, que me deu um casal de netos. Morámos ainda na Quinta Grande e na Torre do Almansor, onde o meu marido morreu, em 1964.”

E começou então uma nova etapa na sua vida:

“Deixei de trabalhar no campo, sobretudo porque tinha medo de andar sozinha por esses caminhos. Consegui uma casinha no Bairro de Na. Sra. da Visitação e trabalhei a dias em casas de várias famílias. Estive ainda, durante uns anos, empregada na Azinhex, onde me encontrava quando casei, em 1973, portanto há quarenta anos,  também pelo Registo Civil e pela Igreja, com o meu actual marido, José Joaquim Grulha, que era igualmente viúvo. O José tinha quatro filhos, três dos quais, felizmente, ainda são vivos. Todos eles me trataram sempre com muita amizade e carinho.”

E durante todos estes anos nunca chegou a aprender a ler ?

“Cheguei, sim senhor. Quando estava na Azinhex tive como colega uma bela rapariga chamada Rosinda que, por sinal, hoje é enfermeira aqui no Abrigo. Pois foi exactamente a Rosinda que me ensinou a conhecer as letras e a juntá-las, o que me permitia, pelo menos, ler os jornais. Foi muito importante para mim. Hoje, por problemas de saúde, já nem isso me é possível fazer, mas a minha gratidão mantém-se.

A D. Leopoldina já foi operada várias vezes, duas delas aos joelhos, e viu-se privada do olho direito, mas é uma lutadora e vai encarando o futuro com um certo optimismo. 

Juntamente com o marido está no Lar, como residente, desde há quatro anos, mas já anteriormente era utente , primeiro do “Apoio Domiciliário” e depois do “Centro de Dia”.

Um Bom Natal, na companhia do José, familiares e colegas do Abrigo.