quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

OS NOSSOS UTENTES

ARSÉNIA MARIA ESPONGINHA

Este mês trazemos à nossa página uma cara bonita que celebra 85 anos no próximo dia 3 de Março.


Sendo a mais velha de sete irmãos, nasceu no Monte do Poço da Rua, nos arredores da estação de Casa Branca, na casa da avó. “Ainda com poucos meses fui morar para o Monte do Lagar, no Escoural e depois para o Monte do Outeiro de Santa Sofia”

Nunca andou à escola. Era a sina de quem, naqueles tempos, vivia sobretudo afastado dos meios urbanos. A aprendizagem mais importante fazia-se no trabalho, muitas vezes duro para a idade, mas necessário para equilibrar a economia doméstica. E a pequena Arsénia não fugiu à regra.

“Primeiro tive de ajudar a criar os meus irmãos a fim de a minha mãe poder ir, ela própria, trabalhar. Depois, exactamente no dia em que fiz 12 anos, calhou-me a mim iniciar o que seria toda uma vida de labuta constante. Comecei por ir mondar trigo, na companhia da minha mãe, por conta de uma família de Évora, de apelido Soares, que tinha propriedades que iam de Santa Sofia até praticamente àquela cidade.”

Especialmente para as raparigas mais jovens, nessa altura o namorar era, salvo raras excepções, praticamente tarefa impossível.

“A minha mãe só me deixou namorar quando atingi os dezoito anos. Dizia ela que primeiro tinha que aprender a ser mulher, para um dia poder assumir a responsabilidade de gerir uma casa. E graças a Deus aprendi.”

E foi então que começou o romance de amor com um seu colega de trabalho, de nome Laurentino José Piteira. E passados 4 anos deram o nó.

“Casámos vai fazer 63 anos. Eu tinha 22 e o meu marido estava com 27 anos. Nunca tivemos filhos, ainda que eu gostasse muito de crianças. Nos primeiros anos fomos adiando porque quisemos primeiro estabilizar a nossa vida. Depois, os anos foram passando quase sem darmos por isso e a oportunidade passou.”

Recordemos então algumas fases desses primeiros anos de vida em comum: “Já casados, fomos residir para o Monte de Vale de Rei, perto da Graça do Divor. Continuávamos a trabalhar os dois para a família Soares. Ali morámos seis anos.”

Mas a vida ainda lhes reservava muitas outras voltas: “Labutámos muito para nos orientarmos e levarmos uma vida limpa, digna e sem dívidas. E por isso procurámos sempre o que nos parecia ser o melhor para nós. Viemos depois para o Monte dos Tanques, junto a S. Mateus e mais tarde demos um salto maior. Fomos para os arredores de Palmela para uma exploração pecuária. Estivemos lá até uns meses depois do 25 de Abril.”

E regressaram a Montemor.

“Sim, finalmente comprámos e viemos residir para uma casa no Largo do Terreiro Novo, já dentro de Montemor. Empregámo-nos primeiro na Quinta da Cruz Velha, da D. Nazaré Mousinho, onde tomávamos conta da vacaria e algum tempo depois na Herdade da Amendoeira, da família Salgueiro.”

Mas não acabaram aqui as andanças da D. Arsénia e do Sr. Laurentino.

“Algum tempo depois, o meu cunhado Joaquim Abel, que estava na Suiça, perguntou-nos se não quereríamos ir lá trabalhar uma temporada. Como tinhamos adquirido recentemente a casa, recorrendo a empréstimo bancário, aceitámos o convite para ver se nos conseguíamos ver livres desse encargo. Estivemos lá por duas vezes, num total de 15 meses. Como trabalhámos os dois e os salários eram bons, quando regressámos pudemos pagar o que faltava do empréstimo.”

E a seguir a essa aventura ?

“Ainda trabalhámos durante muito tempo, até que a idade e sobretudo a doença nos impediu de continuar. Foi assim que acabámos por solicitar ajuda ao Abrigo. Durante seis anos prestaram-nos “Apoio Domiciliário”. No entanto, o estado de saúde do meu marido foi-se agravando e, tendo havido uma vaga como residente, entrou o meu marido e eu comecei a utilizar o “Centro de Dia”, situação que ainda se vai mantendo.

D. Arsénia: desejamos-lhe as melhoras do seu marido e que a Senhora vá continuando com esse espírito jovem durante muito tempo.