quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

OS NOSSOS UTENTES


CASIMIRO FLORÊNCIO


            
Ainda com o sabor na boca do bolo com que celebrou, no dia 8 deste mês de Janeiro, o seu 95º aniversário, o nosso primo por afinidade CASIMIRO FLORÊNCIO dispôs-se a dar-nos dois dedos de conversa, falando de pormenores da sua vida.
            
Viúvo de Guilhermina Maria Dionísio há 13 anos, tiveram uma filha, hoje com 73 anos, que tem casa junto ao Café Oásis e um filho que, infelizmente, já faleceu.
        
“Nasci no Monte dos Choupos, junto às Silveiras. Fui filho único e nem sequer me recordo do meu pai, que fez a tropa como marinheiro e assim continuou até ao fim da vida, apenas com raras e rápidas visitas a casa. Para além disso, tanto o meu pai como a minha mãe faleceram cedo, ambos na casa dos trinta anos.”
          
Como foi então a sua infância?
           
“Depois da minha mãe falecer vivia com o meu avô. Frequentei a escola na herdade da Duraia, onde conclui a 3ª classe. A professora afirmava que eu era muito bom em contas, mas por outro lado dava muitos erros na escrita. Ainda frequentei mas nunca acabei a 4ª classe.”
            
E dada por concluída a escola…
           
“Com doze anos comecei a trabalhar. Tive como primeira função juntar a cortiça que ia sendo tirada das árvores e que, depois, uma junta de bois transportava para as pilhas que atingiam grandes volumes. E a partir daí nunca mais parei. Entretanto, eu e a minha mãe vivíamos com o meu avô, porque o meu pai nunca estava em casa dada a sua condição de marinheiro. Aliás, e como já disse, não tenho dele a menor recordação, tão poucas foram as vezes em que o terei visto.”
                      
E nunca mais parou de trabalhar…
            
“É claro. Perto dos vinte anos comecei a namorar a minha vizinha Guilhermina e, no dia do meu 22º aniversário, juntámo-nos. A minha mãe já tinha falecido e o meu avô trabalhava então para o Dr. Silva Araújo. Eu ia fazendo o que calhava de entre os trabalhos agrícolas. Algum tempo depois o meu avô também faleceu e eu, e a minha esposa, continuámos a residir no Monte dos Choupos. A seguir fomos para o Monte Novo, junto à estrada para Cabrela. Aqui estive 47 anos, até vir para o Abrigo, em 2010. Durante uns anos deixei de trabalhar por conta de outros e comecei a fazer esgalhas e a tirar cortiça por minha conta. A maioria dos lavradores não queria estar com chatices a contratar pessoal e, então, contra o pagamento de uma determinada verba por cada arroba de cortiça que fosse extraída, era eu quem, para além de executar esse trabalho, arranjava também pessoal para o fazer. Para além disto, ainda comprava as árvores, antecipadamente marcadas e com o derrube autorizado pelos Serviços Florestais, cuja lenha servia para queimar nos fornos domésticos ou para o fabrico de carvão. Iniciei esta vida quando tinha cerca de 27 anos, altura em que comecei a perceber que era mal empregado trabalhar uma vida inteira para os outros e resolvi então alterar esse estado de coisas.
            
E durou muito tempo esse estatuto?
            
“Até cerca dos 86 anos. Continuei a morar no Monte Novo mas, sozinho, porque entretanto a minha esposa e o meu filho tinham falecido, fui forçado a pedir auxílio no Abrigo, para onde entrei em Novembro de 2010.”
            
E agora, como são os seus dias ?
                                  
“Sempre tive dois grandes prazeres na vida: dormir com a minha mulher e ir à caça. Por motivos que se compreendem, de nenhum destes posso continuar a usufruir.”
           
Mas como passa os seus dias?
          
“De há uns anos a esta parte, limitado fisicamente devido a um AVC, pouca actividade posso fazer. Já fiz ginásio todos os dias, mas agora pouco mais posso exigir do que dar os meus pequenos passeios, já que estou dependente de canadianas para me deslocar. Mas quero dizer-lhe que fiz grandes desmarcadas enquanto caçador. Tinha uma cadela, chamada “Académica”, que era um espectáculo. Uma vez, em Moura, matei, num só dia, 32 perdizes, uma lebre e um coelho…”
           
Antes de terminarmos a nossa conversa, e se me der licença, gostaria de saber porque ainda é conhecido por “Frescas”…
           
“Para lhe dizer a verdade, nem eu próprio o sei. Eu tinha um tio no Monte dos Choupos, chamado Filipe, que tinha o costume de arranjar alcunhas para todos os gaiatos dali. E eu não fugi à regra, se bem que nunca conseguisse saber nem adivinhar onde é que ele teria ido buscar esse nome. Sei é que, como represália, os gaiatos baptizaram-no de “Cazumba”, também não sei por que carga de água.”
            
A terminar, quer acrescentar mais alguma coisa?
            
“Quero salientar que a minha família continua a apoiar-me e a acompanhar-me praticamente todas as semanas ou sempre que pode.”
            
Amigo Casimiro: Fica já encontro marcado para festejarmos o centenário !