quinta-feira, 19 de julho de 2018

OS NOSSOS UTENTES


JOSÉ MANUEL MATEUS

Nascido na aldeia e freguesia de Ciborro, região onde também foi criado e sempre viveu, o nosso amigo e conhecido de há muitos anos, tem 91 primaveras e é viúvo de Antónia Maria Mateus, falecida há nove anos. Prestou-se este mês a contar-nos, por alto, momentos da sua vida.


“Sou o mais novo de seis irmãos (3 rapazes e 3 raparigas) dos quais só eu e o meu irmão Manuel, hoje com 94 anos, somos vivos. O meu pai era agricultor e só na herdade do Godial esteve mais de trinta anos como rendeiro.”
         
A sua infância foi a normal para a época, ainda que tivesse tido a possibilidade de ir à escola:
         
“Só os três filhos mais novos foram à escola: eu, o meu irmão Manuel e a minha irmã Custódia. Mas enquanto eles acabaram a 4ª classe, eu fiquei-me pela segunda. A minha professora chamava-se Margarida e era natural de Montoito e quando se foi embora, eu simplesmente desisti. Mas escrevo e leio o suficiente para me ter desenrascado ao longo da vida.”
         
Mas tendo dado por terminado o estudo, outra vida o esperava…
         
“Está mesmo a ver-se que sim. Ao terminar a minha carreira escolar, outro remédio não tive se não o de ir trabalhar para o campo juntamente com o meu pai. E assim continuei até perto dos quarenta anos.
        
Mas, entretanto, teve os anos da juventude, em que muitas coisas acontecem…
         
“É sempre uma fase da vida que nos marca de uma maneira ou de outra. E por essa altura os bailes eram o que eu mais gostava. Isso é que eu adorava dançar… Pelo Carnaval também me divertia muito. Recordo-me que por esta quadra se realizavam as cavalhadas, diversão/competição em que os concorrentes, montando em cavalo, égua ou burro, tentavam obter um prémio desde que conseguissem enfiar um pequeno pau numa argola que, ao meio da estrada, estava suspensa num fio. Tinha dezasseis ou dezassete anos e, com uma égua que eu conhecia bem do Godial, fui o campeão nesse ano.”

E em questão de namoros?
        
“Nunca fui muito namoradeiro e, com dezoito anos, comecei a namorar a minha Antónia e por ela me fiquei. Depois, pelos nossos 21 anos, juntámo-nos e fomos morar para o Godial, para a casa da mantearia. E a minha mulher assumiu as funções de manteeira, encarregada das refeições do pessoal.”
         
E por aí foi ficando …
         
“Sim, mas com o passar dos anos o meu pai foi ficando velhote e deixou de ser rendeiro. Fomos então morar para a aldeia do Ciborro, onde acabei por casar legalmente vinte anos depois de vivermos juntos. Já no Ciborro ainda trabalhei no campo, inclusivamente por minha conta como seareiro. Mas as coisas não correram bem e comecei a fazer outros serviços.”
         
E assim continuou?
        
“Não, porque entretanto o meu irmão Manuel fundou a Carpintaria Mecânica de Valenças e eu comecei a trabalhar lá, especialmente como tractorista mas fazendo também o que calhava. E foi aqui que trabalhei até aos sessenta e tal anos, altura em que tive um grave problema no coração, fui operado no Santa Maria e reformei-me, continuando a morar no Ciborro.”
         
Até que …
         
“Até que, com a morte da minha mulher e o avançar da idade, as condições começaram a degradar-se e, para não estar a incomodar as minhas filhas, candidatei-me a uma vaga como residente aqui no Abrigo e essa oportunidade surgiu já este mês.
         
E como vai preenchendo os seus dias ?
         
“Sempre gostei de ler, sobretudo jornais, nas minhas horas vagas, mas hoje a minha vista também já não o permite. Pelo mesmo motivo vejo pouca televisão. Limito-me a ir ao ginásio e a conversar com esta rapaziada da minha idade. Como estou cá há pouco tempo ainda não tive a oportunidade de assistir às actuações do grupo de teatro e do coral, assim como às festas que eu já sei que aqui se realizam de vez em quando.”
         
Amigo Mateus: desejamos que se sinta bem nesta Instituição e que se vá mantendo com saúde até ao centenário.