segunda-feira, 26 de março de 2018


JOAQUIM RAFAEL MARTINS


Vai completar 92 anos no próximo mês de Abril, mas ainda lhe surge um brilhozinho nos olhos quando evoca os seus tempos de juventude e os bailaricos que, nos mais diversos locais da sua zona de residência, eram frequentes quase todos os fins de semana. Está casado há 67 anos com Margarida Augusta Ladeiras. Não tiveram filhos. Estão como residentes do Abrigo há cerca de 5 anos.

Nascido no Monte Novo, ali perto dos Cavaleiros, o sr. Joaquim Rafael Martins recorda algumas fases da sua vida.

“Sempre vivemos no campo. O meu pai explorava uma pequena parcela de terra que era nossa e trabalhava noutras que arrendava. Na idade apropriada andei à escola, não numa oficial mas numa casa grande onde uma senhora, salvo erro de nome Maria Emília, vivia com os pais e dava aulas a uma dúzia de crianças dos arredores, certamente que a troco de qualquer “milhadura”. Ainda frequentei a terceira classe, mas estou em crer que não fiz qualquer exame. Ainda hoje vou lendo, mas na escrita tenho mais dificuldades.”

E acabada a escola, houve que começar nova fase na sua vida:

"Teria uns doze anos comecei a trabalhar no campo, juntamente com o meu pai. Fiz praticamente de tudo, tanto na nossa terra como na da D. Antónia Padeira, que o meu pai trazia de renda. Ainda me recordo de ir ali a uma casa, com a frontaria de azulejos, em frente da Igreja da Sra da Luz pagar os 8 contos que era o valor anual da renda. Isto para além da pitança, que no caso em concreto se tratava de 3 galinhas e 1 peru, que eu, de carroça, ia levar ao monte de Vale de Nobre.”

E era chegada a altura que toda a juventude conhece…

“A minha juventude foi bem aproveitada. Ali pelas Fazendas, raro era o Sábado em que não havia funçanada. Nem queira saber o que eram aquelas festanças. Bastava haver um rapaz que desse uns toques de concertina e estava o baile armado. Pelo Carnaval, então, aquilo era uma festa pegada. Agora até mete pena. Está tudo praticamente desabitado. Há muitos montes vazios. É um dó de alma.

E era nesses bailaricos que se arranjavam os namoros...

“Claro. Com 18/19 anos comecei a namorar a que haveria de ser a minha mulher. Pelo meio ainda namorisquei outra rapariga, mas acabei por voltar à mesma. Então, tinha eu 24 anos e a Margarida 22, um belo dia juntámos os trapinhos. Mas a D. Antónia não consentia ninguém na propriedade que não estivesse legalmente casado, pelo que tivemos de oficializar o casamento pelo Registo e pela Igreja.”
        
E já com o novo estatuto mantiveram-se por lá muito tempo?
         
“Nem por isso. Já casados, fomos morar para o Monte do Passa Figo, onde permanecemos 34 anos. Passado este tempo a Senhora vendeu a propriedade ao sr. Luís Torres e, então, tivemos de nos mudar. Regressámos ao meu lugar de origem – o Monte Novo – e por aqui ficámos cerca de 30 anos.”
        
E sempre a trabalhar no campo?
      
“Sim, senhor. Fiz praticamente todos os trabalhos na agricultura e também trabalhei em carvoarias, desde cortar e preparar a lenha, “terrear” os fornos e, depois do carvão estar pronto, retirá-lo e ensacá-lo. Levei uma vida de trabalho, mas calmo, sem grandes alterações.”
         
E agora?
         
“Sou muito nervoso, mas de resto pessoalmente não tenho sido muito massacrado. A minha mulher, essa sim, tem sido uma vítima das doenças. Praticamente incapacitada devido a reumatismo nas mãos e nos pés, ultimamente ainda lhe apareceu mais uma qualquer doença que a obriga a alimentar-se através de uma sonda."

Então, como vai passando os dias?

“Ultimamente não tanto, devido ao estado de saúde da minha mulher, mas participava nas actividades que aqui se vão fazendo. Só este ano é que não desfilei pelo Carnaval. Fui algumas vezes nas visitas que o Abrigo organiza mas, pelo mesmo motivo, agora não tenho ido. Já agora, vou contar-lhe um pormenor curioso: Entrei para o Abrigo numa segunda-feira de Entrudo e, mal cheguei, fui logo metido ao barulho pelo Zé Manel e pela D. Céu, que me convidaram a entrar com o pé em dança. E eu não me fiz rogado.

Felicidades, Amigo Joaquim e os votos de melhoras para a sua Esposa.