quinta-feira, 21 de novembro de 2019

OS NOSSOS UTENTES


MARIA FELÍCIA HENRIQUES DA CRUZ





Nascida no dia 27 de Outubro de 1928, no seio de uma família com nove filhos, dos quais era a terceira mais velha, teve o Monte do Vidigal como berço.

“O meu pai era feitor da casa agrícola da família Malta e por aqui, por estes sítios, todos nós fomos abrindo os olhos para a vida. A nossa meninice praticamente não teve história digna de registo. Apenas de salientar, porque essa circunstância era pouco comum naquele tempo, que todos nós, com a excepção da filha mais velha, frequentámos a escola. E a mais velha só não foi porque no seu tempo a única hipótese era ainda a de ter de vir a Montemor. Além de ser longe, a minha mãe não a podia acompanhar por causa dos outros filhos.”

E viveram ali sempre? 

 “Não. Mais tarde deslocámo-nos para o Pomar das Almas, perto do Ferro da Agulha e também não muito longe do Vidigal. Ali morámos trinta e cinco anos.”

E como foi a sua juventude?

“A minha juventude foi breve porque aos 19 anos já estava casada com Jerónimo Veríssimo da Cruz, que era guarda-florestal, e que, para minha grande mágoa, faleceu fará agora em Dezembro quatro anos. Até lá trabalhei em casa. Ajudava na lida da casa, a tratar dos meus irmãos mais novos, a fazer o almece, o requeijão e os queijos. Quando casei ainda fui apanhar umas azeitonas mas, porque o meu marido não queria que eu trabalhasse no campo, limitei-me a gerir a casa e a tratar dos meus filhos.”

Quantos filhos teve?

“Dois. O mais velho já faleceu e o Carlos Manuel, com 52 anos, vive em Montemor e trabalha numa empresa perto de Lisboa. Deve ser o maior desgosto na vida, uma mãe ver morrer um filho. Não há nada que se compare.”

Voltando um pouco atrás, a família viveu toda no Pomar das Almas?

“Não, nessa altura a minha irmã Cristina e os meus irmãos mais novos, o Joaquim Albino e o João, foram morar, juntamente com a minha mãe, para uma casa na Rua dos Almocreves. Por esta altura já a Cristina, depois de ter sido Regente Escolar, era Ajudante do Tesoureiro da Fazenda Pública, o Joaquim Albino era Ajudante de Notário ali na rua 5 de Outubro e o João era mecânico na União Metalúrgica, de onde saiu para cumprir o serviço militar em Angola.

 E agora?

“Agora é ver passar os dias. Como vê, já estou limitada a uma cadeira de rodas e os desgostos vão-me consumindo aos poucos. Estou aqui no “Lar” há quatro anos. Não há nada que se equipare à nossa casa mas, fora dela, não podia ter escolhido alternativa melhor.

Gostei muito de falar com a Senhora. Melhoras e dias felizes.