domingo, 22 de julho de 2012

AS SAUDADES DO PASTOR


Chama-se MANUEL JOSÉ mas, segundo ele próprio confidencia, é conhecido sobretudo pela alcunha de  “Lagarto”.

E o nosso entrevistado de hoje dá-se então a conhecer: Nasci há 84 anos no Monte da Serrinha, que fica entre Santana do Campo e S. Pedro da Gafanhoeira, pertencentes a Arraiolos, mas desde tenra idade que resido aqui no concelho de Montemor. Estou casado há 54 anos com Rosária Violante Marques Ferreira, natural de S. Geraldo, e desta união nasceram 7 filhos, sendo 4 rapazes e 3 raparigas.

O seu percurso de vida não foi calmo nem isento de dificuldades: Éramos dez irmãos e, se agora a vida não está fácil, nesse tempo as dificuldades eram muito maiores. No Verão, no tempo das ceifas, os meus pais trabalhavam na Herdade das Carias, que ficava a muitos quilómetros de distância da nossa casa. Então, ainda de noite, porque a viagem durava mais de duas horas e eles tinham de “enregar” ao nascer do sol, lá íamos nós, com uma burrinha, a caminho do destino. Os meus pais e os meus irmãos mais velhos iam a pé, e quanto aos mais novos, metia-se um em cada compartimento lateral do alforge e outros dois montados no animal, em cima da albarda, para que aquela espécie de saco não tombasse com os dois miúdos lá dentro.
Chegados, éramos “arrumados” à sombra de uma árvore e lá ficávamos todo o dia, à espera que o sol desaparecesse no horizonte para voltarmos para casa. E já depois do sol-posto, após um dia de trabalho exaustivo, o regresso fazia-se seguindo as mesmas regras.

E continua: Os anos foram correndo e, aos 7 anos, fui ajudar a guardar porcos na Herdade do Cabido Encarnado. Foi aqui que, aos 18 anos, passei a pastor e tive o meu primeiro “povilhal” (1).
Quando atingi os 21 anos, o patrão decidiu que era altura de passar para a “trincha”, isto é, trabalhar com juntas de bois. Dois animais se o trabalho fosse lavrarem e quatro quando a tarefa era arrojarem a terra. Passei mais tarde para carreiro e fui, ao longo dos anos, fazendo praticamente todos os trabalhos agrícolas. Tinha consciência de que sabia trabalhar, tinha brio em tudo quanto fazia e gostava de ensinar os mais novos.

Até parece que o nosso amigo Manuel José ficou por aqui. Puro engano. Ouçamo-lo: Casei-me com 30 anos e fui viver para a Amendoeira da Graça, junto à Fonte do Abade, perto do Monte do Divor e mais tarde, e sucessivamente, fui vivendo e trabalhando em Bate-Pé Velho, Quinta de Sousa, Romeiras (Cabrela), Comenda do Coelho (S. Geraldo), Benafecim (onde fui contratado por 15 dias e estive 9 anos), Monte da Horta da Avenida (Silveiras), Foros da Pintada e, finalmente, na zona da Ponte de Évora, onde actualmente resido.
Até aos 80 anos, idade em que deixei de trabalhar por as pernas já não o permitirem, fui sempre labutando. Ser pastor a sério é uma vida muito dura e sacrificada. Os animais têm de ser cuidados de dia e de noite e há períodos em que nem à cama vamos. Mas tenho saudades, muitas saudades das ovelhas. Nunca me posso esquecer de que foram elas que me ajudaram a criar os meus filhos.

Manuel José é analfabeto e hoje arrepende-se de, mesmo em adulto, não ter aprendido a ler e a escrever. No entanto, esse facto não o inibe de ir fazendo versos. Os que se seguem foram ditos quando se casou:

Quem quiser comprar, eu vendo
O ramo que estou deixando:
O ramo da mocidade
P’ra mim vai-se acabando

Eu casei aos trinta anos,
Era já maior de idade,
Foi quando eu arranjei
Amor à minha vontade !

Mais recentemente, dedicou a seguinte quadra a uma Colaboradora do Abrigo:

Entrei aqui nesta casa
E vou-lhe tirar o chapéu
Bom dia para os que estão
E p’rá menina Maria do Céu ! 

Manuel José e a Esposa estão desde há dois anos no “Centro de Dia” do Abrigo. Ao final de cada dia regressam a casa e ainda vão mexendo no que podem e dando dois dedos de conversa com as vizinhas.

Até um dia destes.


(1)   Nota:  (Pegulhal: algumas ovelhas pertencentes ao pastor e que este apascenta juntamente com o rebanho do patrão).

quinta-feira, 5 de julho de 2012

A HORTA E O POMAR


Desta vez propomos aos amigos leitores uma breve visita à nossa horta e respectivo pomar.

Na companhia do “vereador” do pelouro, António Joaquim Vedorias, percorremos as “zonas rústicas” do Abrigo que, sob a responsabilidade dos hortelões António Inácio Regouga e António Lourenço, vão produzindo grande parte dos produtos alimentares consumidos na Instituição.


Este final de Junho não terá sido o momento mais favorável, em termos visuais, para uma visita desta natureza, ainda que constitua sempre um renovado encantamento ver nas árvores os frutos apetecíveis à espera de serem colhidos e levados para a mesa. Todavia, a intenção foi (é) apenas a de lembrarmos o que se faz no interior da Instituição e que por vezes se ignora.

Uma grande dor de cabeça para quem ali trabalha tem a ver com o combate permanente que se trava para ir eliminando as ervas daninhas que invadem as áreas de cultivo.

“Na verdade - dizem-nos - grande parte do nosso tempo é gasto a mondar a terra, protegendo as plantas da nociva invasão destas indesejáveis intrusas. Como temos um sistema de rega por aspersão, toda a área recebe o precioso líquido, o que constitui um convite à sua disseminação”.

Há perspectivas, ainda que neste momento não passe de isso mesmo, de num futuro mais ou menos próximo, e contando com a ajuda de benfeitores, instalar um sistema gota-a-gota o que, dizem os responsáveis, não só contribuirá para a diminuição dessa praga indesejável, como nos disponibilizará desde logo mais tempo livre para explorarmos uma área mais vasta. António Regouga assegura mesmo que “a concretizar-se essa solução, conseguiremos produzir maior quantidade sem a necessidade de recurso a mais mão-de-obra.”

Para além do pomar, com mais de duas centenas e meia de árvores com várias espécies de fruta (laranjas, tangerinas, clementinas, pêssegos, maçãs, pêras, nozes, figos, nêsperas, dióspiros, damascos, ameixas, abrunhos), na área de cultivo produzem-se os mais diversos tipos de hortaliças e legumes, próprios de cada estação ou época do ano.

A azáfama é contínua. Vimos zonas onde batatas, abóboras e outros produtos estão prontos para ser colhidos, enquanto aqui e ali se observam áreas já preparadas para que outras sementes ou plantas possam iniciar o seu ciclo de vida.

 
“Não somos auto-suficientes, uma vez que nas três valências (ou respostas sociais, como agora também se diz,) servimos diariamente 366 refeições principais, nas quais incluímos, por norma e habitualmente, produtos hortícolas e fruta. Vemo-nos, por isso, perante a necessidade de recorrer também a fornecedores externos. No entanto, sem a nossa horta, esse recurso a terceiros seria muito mais frequente e oneroso”.

Até este momento, e segundo afirma António Regouga, “a água que temos vai chegando para as necessidades, sem sabermos o que o futuro nos reserva.”

O Abrigo chegou também a possuir, junto ao espaço hortícola, uma pequena exploração de gado suíno e instalações povoadas por dezenas de galinhas. Eram um excelente contributo para manter mais equilibrado o orçamento. Todavia, determinações superiores impediram, há quatro ou cinco anos, a sua manutenção e continuidade. Presentemente, só em ovos o Abrigo gasta cerca de 250 euros mensais, o que seria evitado se aquela situação se mantivesse.

Vamos esperar que o futuro nos traga dias melhores e que nos seja permitido continuar a cumprir os objectivos por que todos vimos lutando desde há 45 anos.


ÚLTIMA HORA: O gota a gota já chegou!

Quis o “destino” que, pouco depois da nossa conversa com o hortelão António Inácio Regouga, uma firma montemorense, como que adivinhando os nossos anseios, disponibilizou-nos todo o equipamento, que nos permitirá colocar este sistema de rega gota a gota nas nossas árvores frutíferas.

Esta conceituada empresa, sempre disponível e solidária quando se trata de apoiar instituições locais, chama-se CAMINHOS DO FUTURO e tem a sua sede aqui em Montemor. Para os seus responsáveis e colaboradores, aqui fica registado o público agradecimento do Abrigo.

 
Está, assim, parcialmente resolvido o problema que havia sido referido anteriormente.

Talvez quem sabe, num futuro mais ou menos próximo, possamos anunciar a instalação de idêntico sistema também na área de cultivo.

Bem haja quem ainda se vai lembrando de quem precisa!

segunda-feira, 2 de julho de 2012

AS OUTRAS DUAS APOSTAS: “LAR” e “CENTRO DE DIA”


Há pouco tempo demos a conhecer uma das três valências que o Abrigo tem vindo a assegurar, e continuará a tentar manter, para proporcionar o nível de qualidade de vida que os trabalhadores idosos do nosso concelho bem merecem. Assim, e depois do “Apoio Domiciliário”, vamos agora referir-nos às outras duas respostas sociais que igualmente merecem a nossa melhor atenção.


LAR

É aqui que, a tempo inteiro, a Associação Protectora do Abrigo dos Velhos Trabalhadores presta todos os cuidados a pessoas idosas de ambos os sexos, naturais do concelho ou aqui residentes, em situação de maior risco de perda de independência e/ou autonomia, procurando facultar-lhes um ambiente saudável de convívio e participação.

Actualmente com a capacidade para alojar permanentemente 88 utentes completamente esgotada, e com extensa lista de espera, nesta vertente prestam-se os seguintes cuidados:
- Alojamento; 
- Alimentação; 
- Cuidados de higiene pessoal e de habitação; 
- Serviços médicos e de enfermagem; 
- Animação cultural e recreativa; 
- Actividades de estimulação física em ginásio; 
- Acompanhamento em situações de emergência; 
- Tratamento de roupas; 
- Serviços de barbeiro e cabeleireira; 
- Participação nas várias actividades diárias da Instituição e outras acções, tais como passeios, visitas culturais, festas de aniversário, intercâmbios com outras IPSS, etc.

Pretende-se assim, e sobretudo:
- Garantir o bem-estar, a qualidade de vida e a segurança dos utentes;
- Potenciar a integração social e estimular o espírito de solidariedade por parte dos utentes e seus agregados familiares;
- Contribuir para a estabilização ou retardamento do processo de envelhecimento;
- Criar condições que permitam preservar a sociabilidade e incentivar a relação interfamiliar e intergeracional.

Temos consciência de que muitas mais pessoas carenciadas teriam todo o direito de usufruir destes serviços, mas infelizmente não temos capacidade para mais alojamentos.


CENTRO DE DIA


Entretanto, e para além do já anteriormente referido “Apoio Domiciliário”, uma terceira resposta social pode ser prestada a quem dela precise.

Falamos, naturalmente, do “CENTRO DE DIA”, que consiste essencialmente na prestação de um conjunto de serviços que visam contribuir para o não afastamento completo dos idosos do seu ambiente sócio-familiar, ao mesmo tempo que são satisfeitas as suas necessidades básicas.

Se sente necessidade deste tipo de apoio, contacte-nos pessoalmente ou pelo telefone 266899760. Não lhe podemos dar antecipadamente qualquer garantia, mas pode contar, isso sim, com a nossa melhor boa vontade para tentarmos dar solução ao seu problema.

Tal como a própria designação indica, os utentes deste serviço de acolhimento estão durante o dia no Abrigo e ser-lhes-ão dispensados os seguintes cuidados:
- Alimentação;
- Cuidados de higiene pessoal; 
- Serviços médicos (desde que o utente seja, no Centro de Saúde, doente do médico da Instituição); 
- Serviços de enfermagem; 
- Animação cultural e recreativa; 
- Actividades de estimulação física em ginásio; 
- Tratamento de roupas; 
- Serviços de barbeiro e cabeleireira; 
- Serviço de transportes (dentro da cidade de Montemor-o-Novo); 
- Um ambiente saudável, de convívio e participação;
- e a disponibilização de cacifo próprio, fechado, destinado à guarda de objectos pessoais.  

Não estão incluídos nesta valência o acompanhamento em deslocações a hospitais, a consultas médicas ou a meios auxiliares de diagnóstico ou outros exames.

Como bem sabemos, nada substitui a nossa casa, onde deveria ser possível manter-nos até ao fim dos nossos dias. Contudo, há situações em que isso não é possível e, portanto, tentamos, dentro das nossas possibilidades, compensar de algum modo a ausência do seio familiar.