quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

OS NOSSOS UTENTES

MARIA ISABEL MALTEZ
         
Utente do “Apoio Domiciliário” desde 2011, a nossa entrevistada deste mês já passou por oitenta e quatro Natais, mas não tem particulares recordações agradáveis dos que viveu nos seus tempos de meninice.
         



“Nasci e morava no Monte de Morganhos, perto dos Baldios e a minha mãe faleceu quando eu e o meu irmão gémeo tínhamos apenas alguns meses de vida, pelo que não tenho a menor memória dela. Éramos então seis irmãos a que se juntaram mais tarde três raparigas, nascidas do segundo casamento do meu pai.”
         
E como era vivido o vosso Natal?
         
“Órfã de mãe e a viver com uma madrasta, quer os períodos festivos, quer os ditos normais, não foram de felicidade e nem guardo boas recordações. A minha madrasta nem sequer permitia que convivêssemos com a família da minha falecida mãe, o que nos causava desgosto. Pelo Natal não havia brinquedos nem guloseimas para ninguém, até porque éramos uma família grande. Por vezes matava-se uma galinha ou um peru e, ocasionalmente, fazia-se um pouco de arroz doce para esse jantar.”
         
E quanto a escola?
         
“Eu e o meu irmão gémeo andámos à escola, nos Baldios, com uma professora particular. Frequentei até à 4ª classe mas não fiz o exame final porque a minha madrasta convenceu o meu pai de que não precisava disso para nada.”
         
E depois?
         
“Com 14 anos fui servir para casa do sr. Francisco Malta, ali na Rua das Escadinhas. Tinha sobretudo como missão servir à mesa, tratar das meninas e atender o telefone. Estive lá até aos 18 anos. Como por essa altura já namorava o que haveria de ser o meu marido, tinha eu dezanove quando nos juntámos e fomos morar para o Monte do Picote. Casámos passados quatro anos, tendo sido padrinho de casamento o sr. Mário Bailão, que era o motorista do sr. Malta. Aproveito para referir que uma das poucas coisas que agradeço à minha madrasta foi o facto de ela me ensinar a arte da costura. Quando saí de casa sabia fazer de tudo como costureira, quer fato de homem quer de senhora.”
         
Mas foram ficando pelo Monte do Picote?
         
“Não. Anos depois fomos para o Ciborro, onde o meu marido guardava e tratava das éguas, por conta do sr. Malta. E eu ia fazendo de tudo, desde apanhar azeitona até ordenhar vacas e ovelhas. Entretanto nasceu a nossa filha – a Catarina – que aqui andou à escola e se fez mulher.”
         
E agora, nova mudança…
         
“Depois do Ciborro viemos então para Montemor. Primeiro, a título provisório, para uma casa na Ermida de Na. Sra. da Visitação e, depois, para a Rua dos Almocreves, onde nos mantivemos durante trinta e tal anos. Dali fomos então para a Travessa das Ferrarias, onde estamos há vinte anos.”
         
E como surgiu a ideia de pedir o “Apoio Domiciliário”?
         
“A ideia e a necessidade. O meu marido, naturalmente também já reformado, tem um grave problema de saúde e eu também já não posso fazer certas coisas da lida da casa, pelo que resolvi pedir ajuda ao Abrigo. Ainda que não esteja em regime de permanência, desloco-me aqui amiudadas vezes em visita, quer participando em passeios, quer assistindo às festas que se vão realizando com os utentes.”
         
E a finalizar a nossa conversa, a D. Maria Isabel ainda nos revelou um dos seus talentos, ainda que fizesse questão de salientar que já não exerce essa aptidão:
         
“Tinha um dom natural para responsar. Sabe o que é isso? E sem esperar pela resposta foi logo explicando: “Quando alguém perdia algo de valor, mesmo que fosse só estimativo, vinha ter comigo para que eu lesse o responso, isto é, que através do meu dom pudesse saber se viria ou não a encontrar a peça perdida. E quando eu dizia para a pessoa acreditar que viria a encontrar o que perdera, isso era certo e sabido. Uma vez, houve uma pessoa que perdeu um objecto e o tempo ia passando sem que aparecesse. Eu continuava a dizer-lhe para ter esperança e a verdade é que, passado um ano, esse tal objecto apareceu."
         
Mas continua com esse dom?
         
“Sim, mas deixei de fazer isso porque era muito violento. Eu ficava cansada, sem forças e, portanto, desde há tempo que recusei definitivamente fazer esse procedimento.”
         
Obrigado, D. Maria Isabel pelo tempo que nos dispensou.

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P.S. – Aproveitamos a oportunidade para endereçar a todos os Utentes, Familiares, membros dos Órgãos Sociais, Funcionários(as), Colaboradores e a todos os nossos leitores os melhores votos de um Natal Feliz e Ano de 2019 sobretudo com saúde.