segunda-feira, 18 de junho de 2012

OS NOSSOS UTENTES


Joaquina Linguiça: Uma vida de trabalho

 “Tinha 10 anos quando comecei a trabalhar no campo”, começou por dizer a nossa figura deste mês, como início de conversa. Mas antes de continuarmos, vamos primeiro apresentá-la:


Natural de Foros de Vale Figueira, tem 80 anos, chama-se JOAQUINA MARIA LINGUIÇA e é utente do nosso “Centro de Dia”. 

E foi revelando: “Devido principalmente à doença do meu marido, que já sofria bastante e estava incapacitado há longos anos, fomos forçados a recorrer ao Abrigo como a melhor solução. Começámos a usufruir deste serviço há oito anos mas, infelizmente para ele, cinco dias depois, e quando já tinhamos regressado à nossa casa nos Foros, nessa noite sentiu-se mal, ainda foi levado para o hospital em Évora mas parece que já nada havia a fazer, tendo acabado por falecer.”

Hoje, a D. Joaquina continua no “Centro de Dia”, sempre na expectativa de um dia conseguir uma vaga no “Lar”.

Desfiando o seu rosário de recordações, D. Joaquina continuou: “A minha infância não foi fácil. Éramos oito irmãos, dos quais eu era a mais velha. O meu pai sempre foi um trabalhador rural e, portanto, apenas com o seu reduzido salário, pode-se facilmente adivinhar as carências que tinhamos de vencer todos os dias. Acresce ainda que, devido à guerra, os alimentos escassevam e  alguns deles só se conseguiam através das senhas de racionamento. Foram tempos muito difíceis, mas lá nos criámos e ainda hoje, felizmente, todos os oito irmãos estão vivos.

A nossa entrevistada, como já referimos, começou a trabalhar no campo desde tenra idade, logo depois de concluída a 3ª classe da instrução primária, que frequentou na escola dos Foros. Como faz questão de salientar, “os tempos eram difíceis e havia que ganhar para a casa. Então, primeiro eu, e pouco depois a minha irmã, que era um ano e pouco mais nova, começámos desde cedo a contribuir para o sustento da família. Mais tarde, já eu era mais crescida, o meu pai começou a sua actividade de carreiro e, aí, para além da jorna sempre pequena, lá ganhava mais 2 litros de azeite e 50 kg. de farinha por mês e um porco por ano. E as coisas começaram a compor-se um pouco mais.”

E continuou: “Fiz ao longo da vida praticamente todos os trabalhos agrícolas que, nessa altura, e sem o auxílio das máquinas que há hoje, eram duros e conseguidos pela força dos braços. Entretanto o tempo foi passando e quando já tinha os meus 20 anos casei-me com o que foi meu marido durante 52 anos – Manuel Lopes. O casamento deu três frutos: Maria Augusta, Delmira e Adriano. Os filhos foram crescendo, juntaram-se com as namoradas (ou, como então também se dizia, amigaram-se) mas todos eles se casaram formalmente mais tarde. E, como nas histórias de amor, todos são felizes, o que  me enche de alegria.”

Mas não foram apenas os trabalhos rurais que preencheram o tempo da D. Joaquina, como esclareceu:: “Toda a vida gostei de costurar. Fiz muitas rendas, trabalhos em malha e neste momento tenho estado dedicada a fazer talegos para os telemóveis, a fim de serem vendidos ou sorteados no pavilhão que o Abrigo irá ter, como habitualmente, na Feira da Luz, em Setembro. É uma forma de passar o tempo e, ao mesmo tempo, ser útil à Instituição.

D. Joaquina ainda nos disse que recorda frequentemente versos que aprendeu e decorou  há muitos anos mas que, naquele momento, a memória estava a pregar-lhe uma partida. Não faz mal; fica para uma próxima oportunidade.