segunda-feira, 12 de agosto de 2013

OS NOSSOS UTENTES



MARIA CRISTINA HENRIQUES 

“Tenho 88 anos e sou a mais velha de 9 irmãos. Nasci no Monte da Courela, perto do Vidigal, propriedade da família Malta e vivi depois no Vidigalinho.”



Foram estas as palavras de apresentação da nossa entrevistada do mês. E continuou o relato da sua vida:

 “Sou a única dos irmãos a quem nunca foi dada a oportunidade de frequentar a escola. Nesses tempos, o aprender a ler e a escrever não era considerada uma prioridade e logo com 10 anos comecei a trabalhar no campo. No entanto, quando os meus irmãos atingiram a idade da escolaridade, ou porque os meus pais já pensassem de outro modo ou porque a tal fossem aconselhados,os restantes filhos todos eles concluiram pelo menos a instrução primária.”


A sua família foi, e é, bastante conhecida aqui em Montemor.

 “Recordo os nomes de todos os meus irmãos: Cristina Maria, Maria Felícia, Albino, José Albino, Manuel Joaquim, Maria de Fátima, Joaquim Albino e João António. Infelizmente alguns deles já nos deixaram.”


Mas voltemos à sua juventude:

“Quando tinha 15 anos comecei a namorar com o que viria a ser, até hoje, o meu marido. Na altura, e especialmente para quem vivia no campo, estes namoricos eram arranjados nos bailes que os rapazes organizavam em qualquer monte. Nos meus lados, dançava-se ao som de um pequeno harmónio, tocado por um guarda-florestal chamado José Salgueiro.”

E foi numa destas “funções” ou “funçanadas”, como também eram conhecidos os bailes campestres, que o romance começou:

 “Foi através destes bailes que comecei a namorar o Júlio. Mas o namoro era bastante contrariado, especialmente pela minha mãe, alegando que eu era muito nova e o rapaz tinha mais seis anos do que eu. Claro que não ganhou nada com isso porque passados três anos já estávamos casados. E ainda bem que demos este passo, porque o meu marido tem sido sempre muito bom para mim.”


E, de menina e moça, cedo passou a senhora casada e com outras responsabilidades:

 “Sou casada há cerca de setenta anos com Júlio Mamede Falé, actualmente com 94 anos. Deste enlace nasceu uma filha – a Maria Júlia – que me deu dois netos e agora já tenho um bisneto e uma bisneta.


Quando casámos, o meu marido vivia e trabalhava na Quinta do Vidigal, então conhecida como Quinta dos Pretos, da família Alves. Foi aqui que vivemos alguns anos. Regressámos depois ao Monte do Vidigal e ultimamente morámos em Montemor, na Travessa das Farizes.”.

A D. Maria Cristina recordou ainda que, em tempos, a mãe e três dos irmãos – a Cristina, o Joaquim Albino e o João – moraram na Rua dos Almocreves, curiosamente no mesmo local onde fora a sede do Clube de Futebol “Os Montemorenses”, vulgarmente conhecido como “Os Leões”, que beneficiou das indispensáveis obras para se tornar habitável.



“Viemos aqui para o Abrigo há um ano. Estamos satisfeitíssimos. Somos bem tratados e usufruimos de condições que nunca tivemos nas casas onde morámos.”


Felicidades para o simpático casal!