quinta-feira, 17 de maio de 2012

OS NOSSOS UTENTES


UMA VIDA PLENA


AUGUSTO ADRIANO PEREIRA é a nossa figura deste mês. Natural de Montemor-o-Novo, onde nasceu há 81 anos, é casado há 58 com Maria Luísa Gomes Ferreira. Desta união nasceram as meninas dos seus olhos: Maria José e Florinda.

Acedendo ao nosso convite, o amigo Augusto aceitou de bom grado revelar alguns aspectos da sua vida. 
 E começou:  “Quando ainda era um rapazote, talvez com 14/15 anos, o meu primeiro emprego foi no café do Largo Serpa Pinto (hoje Largo General Humberto Delgado). Era a Leitaria do Sr. João Taveira, mais tarde propriedade de Gabriel Nunes Coelho e mais recentemente da família Catita. Na altura, aquela zona era muito movimentada e, especialmente nas noites de verão, o largo enchia-se de gente a apanhar o fresco. O café, que só no início da sua actividade vendeu leite, haveria de ficar sempre conhecido por Leitaria.”

E continua: “Estive lá empregado mais ou menos um ano. Como andava sempre a sorrir para a clientela, fiquei conhecido como “O Risotas”. Quando saí, o meu pai, que era um excelente e bem conhecido pedreiro, puxou-me para o seu lado e comecei a dar serventia. Aproveitei os ensinamentos e fui pedreiro até à reforma.”

Paralelamente à sua actividade profissional, ou já depois de reformado, dedicou-se a várias iniciativas de carácter social. “Fui um activo sindicalista, ajudando a fundar o movimento sindical em Montemor; participei nas Comissões de Base de Saúde e pertenci à CISSL – Comissão Instaladora dos Serviços de Saúde Locais. Desenvolvi ainda outras acções que sempre tiveram por objectivo melhorar as condições de vida da população.

O Sr. Augusto recorda agora os últimos tempos: “Há cerca de 5 anos, a minha mulher adoeceu, o seu estado foi-se agravando e, a partir de determinada altura, achou-se impossibilitada de fazer a maioria das tarefas domésticas. O meu estado de saúde também começou a deteriorar-se e não tivemos outra solução senão a de mudar o curso normal das nossas vidas. Pedimos ajuda ao Abrigo. Primeiro fomos utentes do “Apoio Domiciliário”, depois frequentámos o “Centro de Dia” e, quando surgiu a oportunidade, ficámos definitivamente como residentes. Como se não bastasse já a doença que me afligia, no dia 19 de Novembro dei uma queda no ginásio e, agora, só me consigo deslocar com a ajuda de um andarilho.”

Mas durante a nossa conversa surgiu outra confissão: “Há algum tempo surgiu-me a ideia de contar mais em pormenor alguns episódios da minha vida, mas essa possibilidade estava-me vedada porque não conseguia escrever. Um dia manifestei este desejo ao José Manuel Brejo, que imediatamente se prontificou a recolher as minhas memórias e a quem, por isso, estou imensamente grato. Falei deste propósito à Direcção do Abrigo, que acolheu bem a ideia e me incentivou a ir em frente. Foi assim que, após vários meses de conversa, surgiu um pequeno livro que recebeu o título de “Estórias da Minha Vida”. Ainda que sendo uma edição limitada a vinte exemplares da minha responsabilidade, contei com o apoio da Câmara Municipal e do Abrigo dos Velhos Trabalhadores, entidades a quem dirijo o meu agradecimento.

 E, para terminar, confidenciou: “O livro não está à venda. Aqueles exemplares vão ser oferecidos a outras tantas pessoas a quem enderecei convite para estarem presentes na cerimónia de lançamento, que ocorrerá no dia 19 de Maio, pela 14,30 h. numa das salas deste Abrigo.

Foi agradável falar com o Sr. Augusto. Tem uma história de vida aparentemente igual a tantas outras; porém, com a particularidade de sempre se ter interessado pela promoção e bem-estar do seu semelhante, em geral, e dos trabalhadores, em especial.